Já era noite quando Valentina saiu da casa de sua mãe, Roberto e João já haviam saído de lá antes, porém ela ficou na esperança de ver Lavínia que até aquele horário ainda não havia retornado. Antes de deixar a mãe e ir para casa a acomodou na cama, domingo era o único dia que Vitória ficava sem os cuidados de uma enfermeira e isso foi pedido dela mesma, queria ao menos um dia sozinha. Embora sozinha não ficasse completamente porque ou Enrica, ou Valentina e as vezes as duas, sempre apareciam para verificar se ela não precisava de nada.
-Nossa, Lavínia saiu daqui no começo da tarde e até agora não voltou – Observou Valentina, enquanto ajudava a mãe a se deitar na cama ajeitando as grandes almofadas em suas costas. A lua já estava alta, o céu bastante escuro, as luzes do quarto grande e antigo estavam todas acesas.
-É sempre assim – Vitória respondeu com certo amargor na voz – quando ela vai encontrar a tal da Antônia.
Valentina franziu o cenho levemente.
-Será que elas estão juntas ainda? – Perguntou quase displicentemente e sentou-se na beirada da cama.
-Claro que sim – Vitória de sopetão, como se perdesse a paciência em falar naquele assunto – É sempre assim essas duas – Repetiu e encarou Valentina sentada ao seu lado com o olhar um pouco perdido – Aliás essa Antônia é tão esperta quanto a Joaquina, tratou de cercar minhas duas filhas mais vulneráveis – Um pequeno sorriso cínico e ao mesmo tempo triste se desenhou no canto da boca de Vitória, o que dava ao seu rosto um tom quase maquiavélico, as rugas e o envelhecimento agravados pelos pesados tratamentos contra o câncer ajudavam a destacar a expressão sempre contrariada que ela carregava há anos.
-Amarrou as duas direitinho. E caso não tenha percebido a outra filha que estou falando é você.
Valentina riu se levantando da cama
-Eu desconfiei... você exagera em falar assim da Antônia, ela é só uma garota – Se dirigiu aos interruptores das luzes principais que ficavam do lado da porta – Boa noite mãe – Desligou as luzes deixando apenas os abajures acesos que ficavam ao lado da cama. Se encaminhou pelo corredor e desceu as escadas que permaneciam iluminadas, pensando displicentemente se Antônia e Lavínia ainda estavam mesmo juntas. Eram jovens, praticamente a mesma idade, tinham muita coisa em comum, natural que quisessem a companhia uma da outra por muito tempo. Antes de deixar a casa completamente, desligou apenas as luzes da sala e saiu porta a fora. Quando ganhou a trilha do jardim que levava até sua casa, escutou o celular tocar, o pegou do bolso da calça e sentiu o coração bater na boca ao ver o nome de Antônia no visor.
Atendeu imediatamente.
-Val – Ouviu a voz suave de Antônia chama-la quando ela atendeu. O coração aos poucos se acalmou, ouvir aquela voz era tudo o que precisava.
-Oi meu amor – Parou no meio da trilha, para conversarem melhor.
-A Lavínia ta ai? – Perguntou, só então percebeu que havia uma certa aflição na voz da amada.
-Não, acabei de sair da casa da minha mãe e a última vez que a vi foi no meio da tarde dizendo que ia te encontrar.
-É – Antônia suspirou preocupada, queria disfarçar, mas não sabia se estava sendo bem sucedida – Ela saiu daqui de casa e to tentando falar com ela, mas o celular só da caixa postal.
Valentina achou muito estranho o tom de voz, a preocupação.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não – Antônia respondeu rápido – É só que eu tentei ligar pra ela e só da caixa postal. Mas não aconteceu nada. Me avisa quando ela chegar?
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...