Os natais de Rose eram sempre muito parecidos, ela e sua mãe, Neide, em uma ceia simples. A virada de ano sempre passava com os amigos, mas o natal Neide gostava de passar com a filha, vez ou outra Jadson estava presente, como naquele ano. E a presença do irmão mais velho, ao contrário do que poderia sugerir, não trouxe muita alegria a ceia. Jadson passou os últimos dias mal humorado e reclamando. Neide até tentou dar as economias que tinha, porém isso não o acalmava.
-Eu odeio essa cidade, odeio essas pessoas – Reclamava no meio da ceia.
-Jadson, chega, para com isso pelo menos agora, é quase natal já – Pedia Rose.
-Meu filho, estou tão feliz de você ta aqui com sua mãe – Neide tentava animá-lo, estavam os três sentados na pequena mesa redonda na cozinha, a distância que os separavam era curta, então Neide conseguiu facilmente esticar o braço para acariciar o rosto do filho – Não fica falando desse jeito não...
Jadson levantou-se ignorando o carinho da mãe.
-Não tem jeito mãe, eu não gosto daqui. Eu preciso de dinheiro – Falava em um tom levemente alto, ajoelhou-se ao lado da cadeira da mãe – Faz um empréstimo no banco pra mim mãe, eu vou te pagar.
Neide olhava para o filho com aflição, o que mais queria era poder ajuda-lo, mas já tinha dado o pouco que tinha e nunca conseguiria um empréstimo em um banco.
-A mãe não vai fazer empréstimo nenhum – Agora era Rose quem se levantava e parava na frente do irmão. Ela sim, bastante irritada. – Sai daqui Jadson, vai pra rua que é onde você gosta de ficar e se quer dinheiro vai trabalhar.
Lentamente Jadson se levantou encarando a irmã que não arredou, devolveu o olhar desafiador, mesmo que quando totalmente em pé, Jadson fosse bem mais alto do que Rose.
-Você anda bem abusadinha...
-Meu filho não – Neide dizia em voz aflita e chorosa, não queria ver os filhos brigando, vendo a mãe naquele estado, Jadson teve um resquício de compaixão e preferiu não estender a discussão em respeito a ela.
Ainda com o olhar desafiador a Rose, virou as costas e saiu de casa. Assim que ouviu a porta bater, Rose se abaixou para abraçar a mãe, tinha receio do que Jadson poderia fazer para conseguir dinheiro, receio de ver sua mãe e ela própria prejudicada. Rose lembrava bem de seu passado, nem tão distante assim, quando cometeu um erro no meio do desespero em que o próprio Jadson não estava próximo para ajuda-las, não queria o irmão metido em nada parecido. E foi com esses pensamentos e outras preocupações mais que Rose passou o resto do natal.
-Conversar o que? - Perguntou Antônia desconfiada, Joana estava em pé no meio da sala, ela também, um ou dois metros as separavam. Percebeu a mudança de atitude da irmã logo pela manhã, mas não lhe passou pela cabeça o que poderia ser. Firme e irritada, era algo que Antônia não lembrava de já ter visto em Joana, como via naquele momento. A irmã era sempre tão calma e brincalhona.
-Conversar sobre a presepada que você e a Valentina arrumaram – Joana quase gritava, as mãos na cintura, a respiração ofegante, algo muito, muito raro. Percebeu quando Antônia arregalou os olhos e engoliu em seco
-O que... o que você quer dizer? - Ficou repentinamente tão nervosa que a voz saiu num fio rouco, de onde Joana tirou aquilo?
-Você sabe exatamente o que Antônia – Joana andou pela sala. Antônia permanecia imóvel, perdeu até o bronzeado de tão pálida que estava. Não esperava ser confrontada, mas continuaria se fazendo de desentendida, até porque precisava ter certeza do que Joana falava.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomansValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...