Era começo da manhã, que já se anunciava ensolarada, Sarah conseguia perceber pelo amarelado do céu que brilhava forte no horizonte. A bola de fogo que via adiante, dava a certeza de que o dia seria mais um dia quente. Tanto por isso estava sempre preparada, com um boné preso a cabeça entre os cabelos negros que ela mantinha amarrados. Usava uma blusa sem mangas e um short curto. Só assim para aturar o calor que se sentia ainda de madrugada. Na escuridão, saíram da areia da praia rumo ao mar aberto. Desligou o motor do barco quando já não se enxergava nada de terra, fazia-se pelo menos uns quarenta minutos que haviam jogado a rede no fundo do mar e transitavam vagarosamente. Estava debaixo de um pequeno toldo, a única parte coberta do barco pequenino de madeira que a guiava já há muitos anos pelo mar. Desde quando ainda era criança e havia aprendido com seu tio, todas as artes e cuidados da pesca em alto mar. Depois de desligar completamente o motor, saiu do pequeno toldo e se dirigiu até a proa do barco. Eram poucos passos. Na breve caminhada viu a mulher alta já puxando a manivela de um dos tangones, eram dois que ficavam nas laterais do barco um de cada lado, e abriam a rede no fundo do mar. Ela também usava os cabelos amarrados, blusa sem manga e uma calça leve. Fazia força para girar a manivela enquanto a rede subia, na outra manivela um rapaz muito parecido com ela a girava fazendo a rede subir de forma uniforme.
A mulher era mais velha do que Sarah e estava completamente diferente do que quando chegou ali. Os cabelos já estavam bem mais longos, desciam quase que no meio das costas e estavam longe dos negros que um dia foram. As pontas eram bem amareladas, devido a quantidade de sol diária que tomava, e vários e visíveis fios brancos não conseguiam mais se esconder. A pele totalmente bronzeada, denunciava o porque de o rosto estar bastante marcado pelo sol e pela maresia. Algumas marcas de expressão se estendiam pelos cantos da boca, e tímidas rugas entregavam a idade no canto dos olhos. Mas ela não parecia se importar com nada disso, há um ano atrás quando havia chegado naquela praia e foi levada até Sarah, era uma mulher completamente diferente, vaidosa, Sarah poderia jurar que ela era até aquele momento, uma pessoa preocupada com a própria aparência, que gostava de se cuidar, mas que por algum motivo havia perdido toda a motivação para se preocupar com isso, e sem destino parou naquela praia. O olhar verde era carregado de culpa, de tristeza e embora agora estivesse um pouco mais sereno, ainda era pesado e muitas, muitas vezes Sarah viu o olhar se estender perdidamente pelo oceano, com os pensamentos longe, muito longe e sempre tristes, mesmo quando sorria, o que era pouco, era um sorriso triste, acompanhados daqueles belos verdes, sempre culpados.
- Força garoto – Ouviu ela dizer para o rapaz que fazia um grande esforço para girar a manivela. Ela riu pedindo isso para ele. Aprendeu toda a arte da pescaria muito rápido, e era a melhor ajudante que Sarah poderia querer ter. Além de forte, esperta e ser uma eximia nadadora, ainda era silenciosa, ás vezes até demais, parecia só querer falar o que lhe era requisitado. Mas Sarah sabia que ela tinha motivos para isso e os entendia completamente.
Vendo que o rapaz iria sucumbir e acabar soltando a manivela, Sarah foi até ele ajuda-lo.
- Tá precisando malhar esses braços hein João Pedro – Ela disse rindo, enquanto pegou no canto da manivela e o ajudou a terminar de gira-la. Até que a rede subiu completamente e foi guiada pela mulher mais velha, para uma espécie de cercadinho que havia na proa, onde ela mesma abriu-a e diversos peixes dela caiu.
Foi Sarah quem puxou a rede para fora do cercado e prendeu as manivelas. Enquanto ela fazia isso, a outra mulher e o garoto entraram dentro do cercadinho e passaram a separar os peixes. A mulher mais velha explicava.
- A gente só quer o camarão. Ta vendo? – Abaixada de frente para o garoto, ela explicava com um camarão rosa nas mãos. Os peixes e todo o resto que vocês achar ai no meio, pode jogar no mar de volta. Os camarões você coloca aqui – Disse jogando o próprio bicho que tinha em mãos dentro de uma caixa. Vendo a cara de nojo que o garoto fazia, e a resistência dele em colocar a mão no meio dos camarões e dos peixes todos que estavam adiante deles, pulando e se mexendo incansavelmente, ela sorriu e completou – Sem frescura João, foi você quem pediu pra vir, eu disse que você não ia aguentar...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...