Será que estava ficando louca? Será que a falta que sentia de Valentina era tanta que agora estava tendo uma visão dela? Sim porque via Valentina nitidamente parada em sua frente a olhando, poucos metros de onde estava, só poderia ser uma grande peça pregada por sua cabeça que agora era comandada por suas emoções. Valentina não teria motivos para estar logo ali, não ligou, não mandou mensagem, nem sinal de fumaça. Absolutamente nada. Como que agora, não mais do que de repente ela aparecia na sua frente?
-Antônia? – Valéria chamou pela amiga, percebeu que de um segundo para o outro ela empalideceu e focou sua visão em um ponto atrás delas. Olhou na mesma direção e entre mesas e pessoas, viu uma mulher alta que também olhava fixamente para Antônia, exibindo um meio sorriso. Não entendeu nada – Ta vendo um fantasma amiga?
Antônia não respondeu, soltou de suas mãos e andou, o mais rápido que pode até Valentina que a esperava. No meio do caminho trombou com uma pessoa que chegou a reclamar alguma coisa a qual ela não deu a menor atenção. Quando ficou frente a frente com a mulher que revirou sua vida nos últimos meses, estava com o olhos marejados e a boca seca. Não sabia o que dizer, ou melhor, tinha tanto o que dizer, mas não sabia por onde começar. Percebeu que ela também tinha os olhos marejados, o ambiente era um pouco escuro, as luzes coloridas que vinham do andar de baixo na pista, refletiam diretamente naquele verde brilhante que ela amava e lembrava-se perfeitamente. Teve que se lembrar também que estava ainda em função de seu trabalho aquela noite, havia ido dar uma rápida atenção a Valéria, após arrumar lugar no bar para um grande grupo de amigos. Mas já estava prestes a voltar ao batente.
-Desculpa Antônia – Foi Valentina quem quebrou o silêncio entre elas, pois ao redor tudo continuava normal, as pessoas conversavam, o som vinha abafado da pista, a música no bar continuava, apenas elas duas pareciam ter sido jogadas em outra dimensão e nenhuma delas conseguiria mensurar como seria se reencontrar, até que isso aconteceu naquele momento – Eu ... – Diante do silêncio e da expressão incrédula de Antônia, Valentina continuou – Eu preciso falar com você, é importante – Só então olhou ao redor, como que se dando conta de onde estavam – Só que acho que aqui não vai dar – Sorriu sem graça, ainda não conseguia definir se estava arrependida ou não de estar ali, deu uma olhada rápida para a direção de onde a acompanhante da Antônia estava, ela respondeu a seu olhar de forma que Valentina não soube definir o que era. Novamente pensou que aquilo sim era certo para Antônia. A moça era linda.
-Eu também – Só então Antônia conseguiu emitir algum som, mas a voz saiu completamente torcida, engoliu em seco – Também preciso falar com você – Então se deu conta de onde estavam e tentou controlar o nó na garganta, levou a mão ao rosto enxugando com um dos dedos, uma lágrima que poderia escorrer a qualquer momento do canto de um de seus olhos.
-Me espera – Pediu, um pouco mais controlada, e como que querendo impedir que Valentina se fosse, acabou agarrando um de seus braços com força, usava um casaco leve, mas por cima do tecido conseguiu sentir que ela estava quente, do jeito que se lembrava – Daqui há algumas horas eu fico livre, o bar esvazia, podemos sentar e...
-Tudo bem Antônia – Colocando sua mão por cima da pequena mão em seu braço, Valentina a interrompeu delicadamente, aquele breve contato trouxe uma avalanche de emoções inesperadas, sentiu que estava suando de novo – Não é nem bom conversarmos aqui, vamos deixar isso pra amanhã, sem problemas. Eu só ... – Ficou calada alguns segundos, não sabia direito como se explicar de estar ali, diante dela, sem nenhum aviso prévio, então foi sincera – Eu só queria te ver.
Engoliu de novo o nó na garganta e sorriu feliz, Valentina falava de um jeito manso e a olhava com ternura, com intensidade, exatamente como ela se lembrava mesmo antes de ficarem juntas e até antes das coisas ficarem tumultuadas entre elas.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...