Assim como no natal, Antônia também não era a mais animada para comemorar a passagem de ano, porém ali estava ela na prainha na companhia dos amigos, esperando a queima de fogos. Não havia mais falado com Joana sobre Valentina e tão pouco havia visto a própria, não se falavam desde o término, a vontade de ir atrás dela era quase insuportável, quase porque Antônia se obrigava e muito a suportar. Ainda não havia contado a ninguém sobre o assunto, não queria conversar, pois sabia que iria chorar e o que menos queria era chorar, já havia feito isso e muito na última semana.
Depois de algumas taças de bebida, até se sentiu razoavelmente animada. Armando estava com um rapaz que ele havia conhecido em Maringá no natal, Leandra já estava bastante recuperada do término com Viviane e, solteira, obviamente escanceava todo o movimento, assim como Rose. A prainha estava lotada, era já tradição de muito tempo a queima de fogos acontecer ali e diversas pessoas de cidades vizinha vinham acompanhar. Estavam todos naquele momento sentados na areia em círculo, eles mesmos levaram as bebidas, faltava poucos minutos para meia noite.
-Gente, esse ano a calcinha é vermelha – Foi dizendo Leandra para divertimento geral – Quero paixão de verdade na minha vida para o próximo ano. Quero alguém pra dormir de conchinha, pra ir no cinema...
-Todo ano você fala isso – Rose interviu quando terminou de virar mais uma taça.
-Não falo – Leandra rebateu – E você para de beber que precisa sobrar pro brinde da meia noite.
-Eu acho – Armando se meteu, Leandra e Rose estavam lado a lado, ele e Marcelo, seu acompanhante também, Antônia estava de frente para ele, todos sentados na areia – Que vocês duas deveriam se resolver juntas quanto a esse lance de paixão.
Antônia riu, todo mundo ali estava já levemente tonto.
-Concordo plenamente.
-Parem de falar asneira – Leandra quase gritou.
-Bando de gente doida – Completou Rose que em seguida pregou o olhar atrás de Antônia, ao ver o irmão se aproximando, nem sabia se ele estaria ali ou não. Bom agora sabia. Viu quando ele sentou meio do lado e meio atrás de Antônia e próximo a Marcelo, estava sorrindo, mesmo causando desconforto geral quando chegou.
-Sabia que beijar alguém a meia noite da sorte? - Ele disse voltando sua atenção totalmente a ela, como se mais ninguém estivesse ali.
Incomodada com a proximidade, Antônia tentou se afastar um pouco, ficando mais perto de Rose.
-Jadson, hoje não tá, você não tem nada que ficar aqui – Não fazia nem questão de tentar ser simpática.
- Calma mocinha, eu vim em missão de paz – E então finalmente ele se dirigiu aos demais na roda – Vim pedir desculpas pelo meu descontrole de alguns dias atrás. Eu exagerei, me desculpem – Embora pedisse desculpas, o tom era o mesmo de sempre: Uma certa malemolência, quase ironia constante, um puro cinismo talvez.
Todo mundo acabou resmungando um "tudo bem" mas Rose que o conhecia suficientemente, sabia que havia intenção por trás daquela atitude.Surpreender Antônia talvez.
-Me desculpa ta? - Se voltou para Antônia que estava bastante desconfortável – Não vou mais ser um idiota com você.
Em resposta Antônia apenas meneou a cabeça afirmativamente e se sentiu ainda pior quando percebeu que Jadson não fez menção alguma de sair dali. Rose até ofereceu uma taça de bebida que foi aceita.
Os últimos dias estavam simplesmente insuportáveis para Valentina, tentava não ir atrás de Antônia, mas a tarefa era árdua demais, pesada demais, não estava conseguindo dar conta e isso se refletia dentro de casa, com seu mal humor, o qual ninguém estava habituado. A passagem de ano parecia mais um velório do que qualquer coisa, uma ceia simples servia a ela e Roberto, os únicos que estavam em casa. João Pedro provavelmente estava na prainha, sua mãe não gostava de festividades, Enrica foi com a família do namorado e nem ela e nem Roberto se animaram para fazer qualquer coisa. Especialmente ela, não tinha animo para comemorar nada quando só conseguia pensar em Antônia e na última e dura conversa que tiveram, não conseguia aceitar não poder mais ter Antônia para si, não conseguia imaginar estar sem ela. Naquele momento mesmo, faltando poucos minutos para meia noite, tentou imaginar o que ela deveria estar fazendo. Provavelmente também estaria na prainha com os amigos, será que só com os amigos? Será que realmente não havia conhecido alguém por quem se interessou mais? O peito comprimiu ao imaginar isso, não, não deixaria Antônia escorrer das mãos assim. Em um impulso se levantou da cadeira que estava sentada se servindo da ceia.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomansValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...