Capítulo 56

1.6K 140 36
                                    

     João Pedro não disse nenhuma palavra, com os olhos marejados, foi até seu quarto pegar mais roupas para a temporada indefinida que passaria na casa dos avós paternos. Quando viu o filho ir para o quarto sem dizer nada, Valentina foi atrás.

-Filho, João – Chamava aflita, atravessaram o corredor e já estavam ambos dentro do quarto dele que ainda não falava nada. Apenas entrou em um pequeno closet e começou a pegar algumas roupas, acomodando a mochila em cima de uma estante. Valentina ficou na porta.

-Você, você não precisa ficar longe da sua casa filho, das suas coisas. Vem com seu pai pra cá, eu vou pra outro lugar – Tentava falar calmamente.

-Ele quer ficar com a vó e o vô – João respondeu, nitidamente emocionado, aquilo tudo era muito difícil para ele e Valentina se perguntava o que Roberto pode ter contado ao filho sobre a separação.

-Então fica comigo filho – Pediu carinhosa, enquanto o via socar suas roupas dentro da mochila, entrou no closet, João estava de costas para ela. Tentando ser o mais sutil possível, encostou uma mão em seu ombro, massageando levemente, percebeu que ele parou de mexer nas roupas – Eu te amo muito filho, muito, não interessa o que acontece entre mim e seu pai, meu amor por você sempre vai ser infinito.

João virou-se para a mãe que o soltou do ombro, finas lágrimas escorriam de seu rosto.

-Por que mãe? – Perguntou visivelmente triste – Assim, tão de repente, eu achei que tava tudo bem.

Valentina fechou os olhos apertando-os. Deus do céu, fez tudo errado e não poupou ninguém, nem seu filho. Abriu-os novamente para responder.

-As coisas não vinham bem entre eu e seu pai há algum tempo João, mas isso não tem nada a ver com você...

-O que aconteceu? Meu pai não me conta, mas alguma coisa aconteceu, eu só quero saber o que? – Valentina quase se sentiu culpada pelo alivio de perceber que Roberto não falou nada sobre Antônia, nem saberia como explicar isso ao filho, não agora – Você conheceu outro homem? – Passou a mão pelo rosto ao perguntar isso, limpando as lágrimas. A mãe deu um passo a frente e segurou o mesmo rosto com as duas mãos.

-Filho, eu quero te contar tudo o que aconteceu, tudo, mas – Deslizou as mãos pelo seus ombros, João a olhava nos olhos, de tudo o que poderia perder com suas inconsequências, João Pedro era sem dúvida o que mais lhe causaria dor – você precisa estar bem pra me ouvir, precisa confiar em mim de novo, precisa ter certeza que eu te amo e isso nunca, nunca vai mudar – Acariciava seu rosto novamente, ia puxá-lo para um abraço, mas antes de o fazer, João se virou de costas para ela novamente e continuou a socar roupas dentro da mochila. Quando terminou, colocou a mochila nas costas e sem se despedir passou pela mãe e saiu do cômodo. Valentina nem conseguiu se mexer, escutou a porta da frente sendo batida e só então pareceu voltar para a realidade.

As luzes da casa que estavam acesas, eram as que João Pedro acendeu. Valentina andou pelo corredor apagando uma a uma, foi até a cozinha pegar um copo da água, sentia fome mas não tinha vontade de comer. Queria chorar mas as lágrimas não escorriam mais. Na cozinha permanecia no escuro, bem ao fundo só se percebia a luz da sala acesa, ouvia um som ao longe vindo da mesma sala, era uma triste trilha sonora que tocava. Presa em seus pensamentos, não soube definir quanto tempo ficou parada na cozinha com o copo de água na mão, de frente para a pia. Escutou batidas na porta e pela primeira vez em três dias decidiu por atender.

Deixou o copo sobre o balcão da pia e foi até a sala. Respirou fundo antes de atender, sem saber quem era, mas aquelas alturas não esperava nada que a aliviasse e, chegou a trancar a respiração quando viu a mãe parada em frente a sua porta com a pior das expressões.

Destino Insólito (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora