- Eu to um pouco preocupada Tina – Joana dizia com aflição na voz, não sabia explicar todo aquele pressentimento ruim, ligou para Valentina assim que as duas saíram de sua casa. Estava sentada no sofá da sala vendo a noite chegar – Fica de olho nelas, vai atrás delas, a Lavínia saiu daqui cantando pneu.
- Mas elas brigaram? – Valentina havia chegado em casa há poucos minutos, não deu nem tempo de tirar a roupa do trabalho, só jogou a bolsa no sofá. Com fome foi até a cozinha pegar alguma coisa para comer, e em seguida ouviu seu celular tocar. Era Joana. Atendeu na cozinha mesmo, acendendo a luz do cômodo. Embora estivesse com aquela insistente pressão no peito, sentiu que Joana parecia ainda mais preocupada do que ela.
- Não, quer dizer eu não percebi – Aflita, suspirou – Vai atrás delas, fica de olho, por favor.
- Calma, é a Lavínia, ela não vai fazer nada de ruim – Queria acreditar nisso, mas também sentia uma angustia que não passava.
- Eu não sei, só que eu to muito aflita com essa confusão que você e minha irmã arrumaram. Diz que vai atrás delas, por favor?
Valentina não respondeu a pequena acusação velada, que sentiu vir de Joana, porque Joana estava um pouco fora de si pela preocupação, mas ficava irritada com o fato de parecer que ela e Antônia fizeram tudo de caso pensado, inclusive magoar Lavínia.
- Calma, eu to indo, acabei de chegar em casa, é só entrar no carro de novo e sair.
Desligou a ligação, E percebeu que havia recebido uma mensagem, era Antônia, ela respondeu sorrindo. Pensou em comer algo antes, mas desistiu, poderia comer quando chegasse no restaurante. Pegou a bolsa do sofá e foi até a garagem de casa pegar o carro que ela havia acabado de guardar. Até sair do condomínio seu pensamento era ir direto para o restaurante esperar as duas lá, mas não soube explicar porque achou melhor tentar encontra-las na estrada, nem que fosse para fingir que iria na sua mãe, ou qualquer coisa assim. Da sua casa para o restaurante não precisaria atravessar a ponte do rio Canção, mas fez todo o caminho até a estrada que daria ao restaurante sem encontra-las, com certeza elas estariam no carro de sua mãe. Calculou que pelo tempo que elas haviam saído da casa de Antônia, logo que Joana ligou, elas poderiam estar prestes a passar pela ponte. Provavelmente se encontrariam justamente nela. Teve que fazer uma pequena volta, e cruzou parte do centro da cidade que ficava de um lado da ponte, ainda mais naquela hora do dia em que praticamente tudo já estava fechado, as ruas eram bem menos movimentadas. Seguiu pela estrada de acesso a ponte, pensando mil coisas, mas nenhuma, nada do que pensava, do que imaginava, do que esperava, do que sentia, a preparou para a visão mais inacreditável e absurda que teve em toda a sua vida. Faltavam poucos metros para pegar a ponte, mas já a avistava em toda a sua imensidão. E foi de lá, que viu um carro arrebentando a mureta de proteção e caindo diretamente no rio, não se lembrava de ver nenhum acidente parecido em toda a sua vida, que não era curta, naquela ponte. Mas o que a deixou mais apavorada, é que reconheceu o carro rapidamente, era o mesmo ou ao menos idêntico ao carro de sua mãe. Arregalou os olhos e acelerou seu carro, não enxergava mais nada que não fosse o veículo caindo no rio. Em poucos segundos chegou na frente da mureta arrebentada, alguns poucos carros que ali passavam também pararam. O coração batia a mil por segundo, estupefata e apavorada, era o mínimo. Pois se aquele carro não fosse apenas idêntico, mas fosse o da sua mãe, quem havia acabado de cair naquele rio, eram Antônia e Lavínia.
Tirou o casaco que vestia e o jogou no chão, também descalçou dos sapatos, na beira da ponte, exatamente onde o carro atravessou a mureta, via agora apenas as bolhas que o veículo afundando causava. Titubeou por alguns segundos, a ponte era alta, pelo menos dez metros de altura, lembrou-se que em sua adolescência, pular dela diretamente para a água era uma de suas maiores diversões. Aquilo foi sessando conforme amadureceu, e percebeu o perigo que era, bem como algumas normas e leis foram criadas na cidade, proibindo que as pessoas fizessem aquilo, principalmente depois que um turista morreu ao cair na água e não conseguir voltar.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...