Destino Insólito (Romance Lésbico)

Capítulo 6

  Antônia ouvia tudo o que Joana lhe expunha de forma atenta. Estavam deitadas na cama que havia sido de sua mãe e de seu padrasto. A noite já havia caído, a luz do quarto estava acesa. Naquele mesmo dia já havia pedido as contas no restaurante em um horário que não encontraria Elisângela. Algumas horas atrás ela própria foi até sua casa e Antônia pediu para Joana despistá-la. Depois disso Joana a chamou para conversar, sobre tudo. Principalmente sobre o futuro de ambas.

- E então, o que você me diz? - Joana encarava a irmã apoiada nos cotovelos, Antônia estava com a cabeça nos pés da cama, olhando para o teto e balançando os pés na cabeceira. Ficou alguns segundos pensando e olhou para a irmã. Joana na verdade era sua irmã adotiva, Antônio, seu pai e Joaquina, sua mãe, não conseguiram ter

filhos por alguns anos no início do casamento. Na época que Joana surgiu na vida de Joaquina e Antônio, Joaquina ainda não trabalhava para a família Almeida. Era camareira em um pequeno motel de beira de estrada, onde uma colega de trabalho ficou grávida e não tinha condições de cuidar da criança, tão pouco o pai que era um caminhoneiro qualquer, vivendo em um lugar qualquer, o qual nunca encontrariam. Ávidos por terem um filho, Antônio, um simples porém honesto pescador, e Joaquina ofereceram ficar com a criança. Nasceu então Joana, houve um certo empenho para conseguir a guarda, pois eram um casal humilde. Foi a integridade e empenho de ambos que os ajudou na questão, além também do fato de Joana ser negra e por mais que fosse apenas um bebê, era mais difícil de sair da fila de adoção. Infelizmente.

Joana não tinha de fato do que reclamar de sua família e sequer teve vontade alguma vez na vida de procurar a mãe verdadeira, não por mágoa, acreditava que a mulher que a geriu tinha total direito de não querê-la como filha e havia a entregue em melhores mãos. Antônio era excelente pai, Joaquina excelente mãe, a vida era simples e cheia de dificuldades, porém todas eram aos poucos superadas e ainda melhorou mais quando Joaquina foi trabalhar para a família Almeida, Joana já era adolescente na época. Antônio como pescador, trabalhou praticamente toda a sua vida dependendo do que o rio Canção oferecia, mas ao longo desses anos adquiriu um perverso vício por jogos, o que gerou incontáveis brigas entre ele e Joaquina. Nesse meio tempo, milagrosamente, Joaquina engravidou e nasceu Antônia, o que poderia ter sido um remédio para o pai largar o vício, na verdade pareceu apenas piorá-lo. Antônio se sentia na obrigação de colocar mais dinheiro em casa por conta de agora ter duas

filhas, Joana quando estava com dezoito anos, já trabalhava e custeava seu primeiro curso de Enfermagem. Era sua mãe quem arcava com as despesas mais pesadas da casa, o salário trabalhando para a família Almeida era bom, aquilo parecia incomodar Antônio. As brigas entre os dois aumentaram e quem passava maior parte do tempo com a irmã ainda bebezinha era Joana. Joana acreditava que o vício do pai e as brigas dos dois incentivaram sua mãe a ter um caso com Domingos Almeida, embora não soubesse exatamente em que momento esse relacionamento tenha começado. Domingos, provavelmente não tenha tido vida fácil com Vitória também, a carência dos dois pode ter empurrado um aos braços do outro. A verdade é que sua mãe nunca entrou em detalhes disso com ela. E Joana tão pouco se sentiu a vontade de levantar o assunto.

Quando Joaquina fugiu, o vício de jogos de Antônio passou também para a bebida e Joana tinha que lidar com isso sozinha, contou demais com a ajuda da amiga Valentina, isso é verdade, mas Valentina tinha seus próprios problemas a resolver também e uma mãe coberta de rancor para conviver. De qualquer forma ambas se ajudaram muito, eram amigas de infância, se adoravam e o apoio de uma para a outra foi fundamental para enfrentarem a crise que seus pais haviam deixado em Cântico. Aproximadamente três anos depois de a abandonar, a mãe passou a enviar cartas, a bem da verdade é que de tudo o que se podia sofrer a falta, o que mais machucava Joana era a saudades da irmã caçula. E foi mais por ela do que por qualquer outra razão que Joana passou todos os próximos anos indo até Campo Grande de forma regular. Tentou convencer Valentina a ir com ela algumas vezes, mas Valentina era magoada demais com o