Nunca em tempo nenhum Rose se interessou por yoga, a verdade é que sequer sabia direito o que era, nunca se deu ao trabalho de ver, saber, nada. Mas agora estava ali, esperando Antônia sair da aula e assistindo um dos espetáculos mais maravilhosos que seus olhos poderiam presenciar. Umas dez mulheres alinhadas, fazendo as mais diversas poses, esticando as pernas, empinando a bunda, concentradíssimas e deixando Rose maluca, que se soubesse que aquilo era yoga já estaria praticando há anos.
Ficou uns quinze minutos observando pelo lado de fora da sala, ela estava em um corredor e a sala de yoga era separada por uma parede montada com um grande janelão de vidro. Estava hipnotizada pela visão. Até que a aula findou e Antônia saiu pela porta para encontrá-la. Vestia um top e uma calça legging, os cabelos amarrados.
-Que cara é essa Rose? - Perguntou antes de se cumprimentarem, Rose estava até meio pálida, antes que pudesse responder, a própria Antônia continuou – Eu vou tomar um banho, trocar de roupa e já volto tá, é bem rapidinho prometo, espera ai mesmo.
Mais uns quinze minutos e Antônia apareceu, agora vestida com calça jeans e uma blusinha básica. Os cabelos ainda amarrados e o cheiro de banho. Rose ainda estava lembrando das cenas que presenciou minutos antes da aula de Yoga.
-Pronto, desculpa te fazer esperar, vamos – Saíram pelo corredor, até ganhar uma escadaria que dava para a porta de saída. Rose e Antônia haviam combinado de ir para uma feira que havia na praça principal de Cântico. Rose não tinha aula naquela sexta feira e há dias Antônia queria passar na tal feira.
A praça não ficava longe da academia e em poucos minutos chegaram la caminhando.
-Eu não tinha ideia que esse tal de yoga era essa maravilha que eu acabei de presenciar – Rose dizia enquanto caminhavam.
Antônia riu, meio sem entender.
-Como assim?
-Como assim o que Antônia? - Rose estupefata – Aquele bando de mulher gostosa fazendo aquelas poses malucas, eu acho que tive trinta e cinco tipos de fantasias com cada uma de vocês.
Pararam de frente para uma barraquinha que servia espetinhos de carne.
-Rose, eu vou fazer de conta que não ouvi isso – Antônia pediu o seu e Rose também.
-Eu preciso me matricular nesse negócio – Empolgada – É muito difícil?
-É – Antônia respondeu rápida e pegou seu espetinho, oferecido pela senhora que atendia – Você tem que gostar de fazer Rose, não pode fazer pra ficar babando na mulherada não.
Rose também pegou o seu e as duas deram alguns passos até acharem uma mesa vazia e se sentarem de frente uma para a outra.
-Mas eu com certeza vou amar fazer isso – Se encostou na cadeira e ficou com o olhar distante – Meu Deus, eu vou sonhar muito com o que eu vi... perdi tanto tempo da minha vida.
Antônia revirou os olhos rindo e comeu seu espetinho. Rose também. Até que a própria Rose se lembrou de algo e perguntou.
-A chefe te achou no depósito antes de ontem? Ela apareceu la te procurando ... - Ela claramente fazia uma insinuação maliciosa.
-Achou – Antônia respondeu sorrindo, sem perceber, lembrando de tudo o que aconteceu, cada pedacinho do seu corpo sentia falta dos toques de Valentina, queria estar com ela todos os dias.
-É já vi que achou bem achado – Percebendo a expressão de Antônia, Rose queria perguntar aquilo há dias – Você e a poderosa chefona já?... Você sabe
Antônia sorriu saudosa, se lembrando da primeira vez em cima de sua cama. Nunca esqueceria e de fato seria bom contar para Rose, era muito ruim guardar tudo aquilo só para si.
-Ai Rose – Ela pareceu levemente constrangida subitamente – Não sei como dizer isso de outra forma, mas ... - Antônia riu da cara ansiosa de Rose que a incentivou a falar logo – Nós transamos sim – Respondeu baixo, com medo que qualquer um pudesse ouvir, mas Rose não foi tão discreta soltou um "woooowwwwww" alto, fazendo Antônia repreendê-la – shhh baixo mulher, pelo amor de Deus, tenho pavor de imaginar alguém desconfiando disso.
-Pavor é? - Rose tentou usar um tom mais baixo – Então é melhor vocês duas se conterem, porque daqui a pouco todo mundo percebe que tem alguma coisa rolando, o jeito que vocês se olham. Antônia, a Valentina chega perto de você parece que ela vai te devorar ali mesmo.
Sorriu novamente, porque era exatamente isso que sentia quando Valentina se aproximava dela, que seria devorada a qualquer instante e como gostava disso.
-Nossa, a mulher deve ser muito boa, pela cara de safada que você tá fazendo agora ...
-Ela é Rose, você não tem noção, a Valentina é demais – Dizia com o olhar distante, cheia de saudades, ansiosa pelo dia seguinte, que passariam juntas. O aguardado sábado.
-E agora? Como vai ser?
-Vai ser o que? - Antônia finalizava seu espetinho e limpava os lábios com um guardanapo de papel que ganhou na barraca onde comprou o espetinho.
-Vocês duas ué, como vão ficar?
Antônia respirou fundo, não tinha e nem queria parar para pensar no futuro, preferia apenas curtir o presente, porque simplesmente não tinha pelo o que esperar. Externou isso a Rose.
-Não vou pensar no amanhã Rose, quero só curtir o agora. Depois a gente vê o que acontece.
Rose suspirou, segurou uma das mãos de Antônia com a sua, estava verdadeiramente preocupada com a amiga desde que percebeu a loucura em que ela estava se enfiando.
-Antônia, por favor, toma cuidado – Pedia com certa aflição – Não quero que você se machuque, não quero confusão para o seu lado.
Antônia soltou sua mão de Rose e acariciou seu rosto, esticando-se, se sentia de certa forma confortável com a preocupação dela, até protegida.
-Obrigada pela preocupação Rose, você é um amor. Mas eu sei o que to fazendo tá? Não se preocupa – Dizia com uma convicção muito maior do que a que sentia.
Rose esperava verdadeiramente que ela soubesse mesmo, caso contrário aquela história poderia acabar mal e ela era o lado mais frágil.
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-Tinaaaaaaa, tá no mundo da lua mulher? - Enrica chamava a atenção da irmã pela milésima vez naquela noite. Havia a chamado para jantar como há muito não acontecia, um jantar entre irmãs apenas.
-Desculpa Enrica, estou preocupada com algumas questões de trabalho – mentiu. Estava sentada a mesa, enquanto via Enrica preparar um prato qualquer, segurava Maria no colo.
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Destino Insólito (Romance Lésbico)
RomanceValentina é uma mulher de 44 anos que administra uma produção de café na pequena cidade de Cântico no interior do Paraná. Leva uma vida tranquila ao lado do marido Roberto e do filho adolescente João Pedro. Mas para ter essa vida tranquila, abriu mã...