Parte 2- Desespero

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Narrado por Andrew:

  O doutor fez uma pergunta que me deixou muito abalado.

— Vocês sabem se Ana tinha algum namorado? — perguntou ele.

   Todos se olharam e negaram.

— Por que a pergunta? — retruquei.

— É, que a paciente estava grávida de uma gravidez muito recente, infelizmente teve um aborto instantâneo. — ele disse, e meu coração começou a bater rápido, senti meu rosto ficar pálido, e balbuciar repetida vezes em meu pensamento, até que a minha voz saiu.

— Ela estava grávida? — perguntei.

   Todos que estavam ali, alguns amigos, familiares e pessoas que eu nem sei que é, e Sebatian que desde de ontem não saiu daqui, olharam p'ra mim. Todos sabiam que ela estava comigo, e que provavelmente o filho seria meu, mas eu não estou conseguindo raciocinar direto. Um filho? Meu? Sem ser com a minha esposa.

— Como eu disse, estava recente. O pior não é a perda do bebê... — diz e eu demosntrei meu desconforto com a sua frase e ele continuou. — Estamos acreditando que ela terá problemas, pois houve uma pequeno inchaço na parte da pancada em seu cérebro, e teremos que ver se haverá alguns problemas graves ou não...

— Não estou entendo doutor?

— Ela pode vir com sequelas, há mais provável é a perda de memória, pode ser grave, ou não. Recente ou perda total de memória. Ela pode acorda e não lembra do próprio nome, como acontece em casos raros de perda de memória, quando ela não lembra de sua infância e só lembra de coisas recentes. Como também, pela tomografia que fizemos de sua cabeça, ela pode ter algumas alucinações, o que estou querendo dizer é que se alguma dessas coisas acontecer ela terá que fazer uma operação.

— Mas essa operação é de risco? — perguntou uma das amigas de Ana. — Pode falar doutor, estou no terceiro período da faculdade de Medicina, eu sei dos riscos.

— Olha como Médico, meu dever é dizer a verdade mesmo que doa. E infelizmente, haverá um risco, mas mesmo assim nós temos que fazer isso por ela. Se ela vier com a perda de memória, se nós não fizermos nenhuma operação para conter o inchaço, a situação irá se agravar. Ela poderá ter perda de memória irreversível. Como já aconteceu três anos atrás com uma paciente, ela se esquecerá do seu presente recente, e em cada meia hora ela se esquecia das pessoas. Uma situação difícil para família. Como vocês viveriam com uma pessoa que em cada meia hora ela se esquecesse das pessoas que ela acabará de conhecer, ou de um filho. Se ela olhasse para um filho e não se lembrasse que ele veio do seu ventre.

— Então, nós temos que fazer a operação. — eu disse, rendido ao desespero.

— Sim! Agora eu vou ir falar com o Doutor Felipe que vai ver como ela está e fazer algumas perguntas.

— Doutor uma última pergunta... — a mesma de antes falou.

— Diga senhorita?

— E se ela tiver alucinações ao invés da perda de memória? — ela perguntou, eu levantei o olhar para encarar a menina que olhava para o Doutor com os olhos cheios de lágrimas.

— Bom ela perderá o juízo, fará coisas sem sentidos o tempo todo. Verá pessoas andando... Terá que ser internada em um hospital psiquiátrico. — ele disse sem se importa com o nosso sofrimento. — Então, eu vou indo.

   Ele se foi, eu fiquei com tanto ódio da frieza dele. Senti meu celular vibrar, e peguei ele sem olhar para saber quem era.

— Amor! — era Melanie.

— O que você quer? — perguntei.

— Estou ligando para te avisar que eu estou voltando para casa, recebi uma ligação do papai dizendo que mamãe teve um AVC e eu não posso esperar mais você... Tchau. — diz nervosa e desliga.

   Muito estranho, mas eu não vou ligar para isso agora, meus pensamentos são levados a Ana. E se isso tudo acontecer com ela, o que vai ser de nós dois. Meia hora depois veio um médico nós chamar, ele disse todos podíamos entrar porque seria a única visita do dia. E que no final alguém ficaria com ela no quarto, eu disse que eu ficaria e ninguém disse nada.

   Quando eu entrei por último na senti meu estômago revirar, ela estava com uma faixa na cabeça, estava com aparelhos no rosto ajudando ela respirar. E eu pude ver como ela respirava com muita dificuldades. Ela viu a sua avó e sorriu, eu vi que ela tinha dificuldade para falar. Me aproximei dela, ela me olhou de cima a baixo e eu me senti um intruso em sua vida.

— Oi, Ana! — eu disse dando um beijo em sua testa, ela levantou o olhar como se não soubesse quem eu sou. — Como você está? — perguntei segurando a sua mão, ela afastou e não segurou. Engoli em seco e olhei para o lado, para todos que estavam ali. — Lembra de mim? — perguntei e ela negou com a cabeça.— Muito bem! — sorri fraco.

   Sebastian me afastou da frente da cama me levando para o canto do quarto, eu olhei para ela que me olhava sem entender.

— Ela ficará bem! — diz tentando me confortar.

— Mas, e se ela não se lembrar de mim? E se ela não lembrar que cuidei dela? E se ela nunca mais lembrar que disse que me amava... — eu falei sentindo os meus olhos se encherem de lágrimas.

— Ela terá que fazer a operação que o Doutor disse... E eu acho que seria melhor chamar a tia da Blair para fazer a operação dela.

— Você só pode ter perdido o juízo. Você acha mesmo que a tia da Blair vai querer operar a minha aman... Ana.

— Eu não só acho como eu tenho certeza, ela é a melhor médica cirurgiã do mundo você sabe disso melhor que ninguém. Ela zela pela cura das pessoas, eu tenho certeza que ela aceitará fazer isso.

— Como você pode ter tanta certeza assim? — perguntei.

— Por que eu já liguei pra ela falando do problema da Ana. E ela me disse que só vem ao Brasil, se você trouxer ela e junto a sua sobrinha, que não aguenta mais ficar longe do maridinho dela. — ele disse.

— Eu já te falei para você não brincar com isso, ainda mais em uma hora dessa. — eu disse.

— Desculpa! — ele disse

   Olhei para Ana, e caminhei até ela, depositei um beijo na sua testa e sussurrei que eu voltaria. Chamei a sua avó no canto e falei com ela.

— Dona Lúcia, terei que fazer uma viagem para Nova Iorque. Não deixe ninguém fazer nenhuma operação nela, até que eu volte. Vou ir buscar a melhor cirurgiã para fazer a operação dela.

— Você é um anjo! — ela disse, dando um beijo na minha bochecha e um abraço forte. — Se não fosse por você, ela estaria morta. Muito obrigado, por amar tanto a minha menina. Muito obrigado, por se preocupar com ela do jeito que ninguém nunca jamais se importou. — diz e vejo lágrimas queimar o seu rosto.

— Eu me importo com ela, por que nessas semanas que passaram, ela me mostrou que eu tinha salvação, ela me mostrou que eu mesmo eu sendo um homem cafajeste eu poderia me apaixonar. E eu gosto muito da sua neta, dona Lúcia.

— Oh, menino.

— Agora eu tenho que ir e preparar à viagem.

— Tudo bem, que Deus te abençoe.

(Concluído) O Indecente do meu Chefe Onde histórias criam vida. Descubra agora