Capítulo 8

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Eu estava apreensiva. Estava visivelmente nervosa com tudo aquilo. Estava com medo. Minhas mãos estavam suando frio e eu estava sentindo um enjoo terrível, e o homem me olhando com uma expressão de preocupação só estava piorando a situação.

Qual será a notícia ruim? Não consigo imaginar nada. Se fosse a pior de todas, com certeza não teria notícia boa.

— Então... — Faz uma pausa e respira fundo. Nunca vi um médico tão hesitante para dar uma notícia para um parente. Será que em todos os possíveis anos de trabalho que tem, ele ainda não se acostumou em dar notícias ruins? — A boa notícia é que apesar da região onde ela foi atingida pelo projétil ser sensível demais, não atingiu nenhum nervo. — Assenti. Pelo pouco de entendimento que tenho, isso deve significar que nenhum movimento foi afetado. Ótimo! — E... — Faz novamente uma pausa e dá um pequeno sorriso. — Isso quer dizer que ela não terá nenhuma sequela. Não perderá movimento algum ou ter graves consequências. — Sorri aliviada e feliz por saber que meu pouco entendimento estava correto. — Porém, por causa da cirurgia ela precisará de ajuda para andar e fazer qualquer outra coisa durante dois meses, no mínimo.

— Certo! E qual a notícia ruim, então? — Nesse momento, a expressão feliz some de seu rosto.

— Então... — Desvia o olhar do meu. — A ruim até agora é... — Franzi o cenho. Como assim, até agora?

— Até agora? Como assim? — Interrompi-o.

— Deixe-me terminar, senhorita.

— Pode continuar. — Digo sem graça.

— Continuando... A ruim até agora é que, na cirurgia surgiram várias complicações e tivemos que mexer em lugares que não tinham ligação com o lugar real do ferimento, além dela ter tido duas paradas cardíacas e ter perdido bastante sangue.

— E o que isso quer dizer? — Indaguei já temendo a resposta.

— Quer dizer que ela foi direto para a UTI assim que saiu da sala de cirurgia, nós a sedamos para mantê-la em segurança e não tem previsão para acordar, isto é, se acordar, pois as chances não costumam ser muitas. Tudo vai depender de como o corpo dela vai reagir durante esse tempo e se suportará ficar sem as sedações depois. — Fala de uma vez, deixando-me sem reação. — Sinto muito. — Toca em meu ombro, apertando-o de leve. — Agora eu preciso ir, tenho outros pacientes para atender e outros familiares para conversar. — Eu assinto e ele sai de perto de mim, entrando pelo mesmo lugar que saiu.

Sentei-me novamente onde estava há pouco e permiti que as lágrimas saíssem. Elas vieram com força e queimando tudo.

Então eu chorei. Chorei como uma criança. Isso não podia está acontecendo comigo. Já basta o que sofri com Neal e ter os meus pais longes de mim, agora a única pessoa que eu tinha em todos os momentos ao meu lado, estava entre a vida e a morte, ou entre a morte e a morte, já que não tinha muitas chances.

Chorei a ponto de soluçar alto várias vezes e as pessoas ao redor me olharem com pena. Chorei tanto que estava ficando com dor de cabeça e falta de ar.

Eu não posso perdê-la. Eu já estou tão acostumada com sua presença, com seus carinhos, abraços, suas brincadeiras. Não consigo mais me imaginar sem nada disso. Nem que seja pelo menos um desses. Não quero deixar de ouvir sua voz, sentir seu cheiro, sentir seu toque. Eu não quero e nem posso, também. Eu não posso perdê-la. Não posso.

Isso não deveria está acontecendo com Regina, mas sim comigo.

Era a mim que Neal queria. Era para eu estar no lugar dela, naquela cama inerte, sem previsão para acordar. Eu, não Regina.

Sou tirada de meus pensamentos por Tinker, que me puxa da cadeira em que estou sentada e me abraça, provavelmente por causa do meu estado.

— O que aconteceu, Emma? Alguém trouxe alguma notícia? Por que você está assim? — Solta-se de mim e me encara.

— Regina... — Foi tudo que consegui dizer em meio a soluços.

— Regina o que? — Seu tom sai desesperado. — Emma... O que tem ela? Alguém veio aqui dizer algo? — Tento abrir a boca, mas não consigo responder-lhe. — Diga alguma coisa, eu estou preocupada. — Pede, tocando em meu rosto e virando-o em sua direção.

— Ela vai morrer! — Gritei e sentei-me na cadeira novamente. Estava sem forças nas pernas. Ou ficava sentada ou deitada no chão.

— O que? — Sussurrou. Em seguida, deu alguns passos para trás e caiu sentada em uma cadeira. Seu olhar estava perdido no nada.

— O médico veio aqui... — Respirei fundo algumas vezes antes de continuar. — Ele disse que a cirurgia foi complicada e ela corre o risco de não acordar mais. — Digo de uma vez e em seguida, apoio meus cotovelos na perna e enfio minhas mãos em meu cabelo, mas logo as escorrego para o rosto.

— Não! Não! Não! — Murmurou para si. — Isso não pode acontecer. — Vejo por entre meus dedos que se levanta e começa a andar de um lado para o outro. — Emma, isso não vai acontecer. — Senta-se ao meu lado. — Vamos ter esperança que ela vai sair dessa. — Tira minhas mãos que cobriam o meu rosto e o levanta em sua direção. — Regina é uma mulher muito forte, ela vai sair dessa. — Dá um sorriso fraco. — Você sabe disso. Esteve com ela quando perdeu o bebê e ficou nesse mesmo estado crítico... Dessa vez vai ser a mesma coisa.

— Dessa vez é diferente, Rose! ― Rebati em um tom mais alto do que deveria. ― Daquela vez ela estava acordada, mesmo cheia de fios e toda complicada. — Fiz uma pausa e respirei fundo. — E agora... — Olhei para o teto tentando segurar mais lágrimas que queriam descer. — Agora nem isso ela está. — Não aguentando mais segurar, permito que as lágrimas caiam por meu rosto. Sem pedir permissão, deito minha cabeça em seu colo.

Tinker não responde mais nada e então passamos a ficar em silêncio. Minutos depois sinto seus dedos fazendo um carinho leve em meus cabelos e por um momento aquilo me acalma.

Alguns minutos depois eu já tinha me acalmado totalmente e agora estava apenas com a cabeça encostada no ombro de Tinker.

— Emma... — Chama-me e eu me afasto de seu ombro para lhe encarar. — Eu preciso avisar ao meu irmão. Ele tem que vir para cá agora. Quando ela acordar ele tem que estar ao lado dela para apoia-la. — "Se ela acordar" Pensei comigo. Assinto com um manear de cabeça e logo ela se levanta, já tirando o celular do bolso e se afastando de mim, deixando-me só.

Aquele dia já estava sendo ruim para mim e agora que eu terei que ficar frente a frente com o meu ex-professor, só vai piorar a situação.

Eu gosto muito do Robin. Ele é um ótimo homem, sempre tratou os alunos bem e sempre tratou a minha Gina bem também. Porém, nesse momento eu não queria vê-lo nem pintado de ouro em minha frente, ainda mais lá no quarto com ela quando a mesma acordar. Quem deveria estar lá, apertando sua mão até ela abrir os olhos deveria ser eu. Era para ser eu a primeira pessoa que ela veria assim que abrisse os olhos.

Mas, não... A verdade é que eu não posso pensar assim. Estou sendo muito egoísta com ele e com ela também. Ele é o marido dela, não eu. Ele quem deve estar lá e não eu.

Depois de muito pensar sobre esse assunto resolvo aceitar que quem deve estar com ela nesse momento, que eu tenho fé que vai acontecer, é ele e não eu.

Alguns minutos depois, Tinker chega sentando novamente ao meu lado.

— O Robin já está a caminho. — Avisa. — Em 2 horas mais ou menos ele chega.

Assim que escuto o que ela fala, viro meu rosto para o lado oposto ao dela e minha expressão muda. Muda para tristeza e um pouco de raiva.

Cheguei à conclusão de que será impossível eu não ser egoísta. Será impossível eu aceitar numa boa, ele lá no meu lugar. Terei que aceitar forçada. Infelizmente ele é seu marido e não eu. Terei que aceitar entrar em seu quarto depois de ele muito ter beijado aquela boca que horas atrás estava beijando a minha, estava sendo minha.

Infelizmente!

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