05 - Kelan, a garota irritante

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Eu não tinha nada contra mulheres, eu juro, mas não achava que fossem ideais para fazerem parte de uma equipe de caçadores.

Ok, um dos meus antigos companheiros de caça era uma menina, mas ela era muito forte, e pertencia ao clã Matsu, portanto manejava bem qualquer tipo de arma pesada. Claro que eu já havia visto caçadoras fortes, mas elas não eram mais garotas adolescentes, eram mulheres maduras, experientes, que já sabiam o que fazer ou como lutar.

Você vai me entender.

O fato é: o Dio era insubstituível. Ainda mais por uma garota. Uma garota convencida, digamos assim. Kelan corria à nossa frente pensando que era a nossa líder ou algo do tipo. Olhei para o Riku várias vezes, me perguntando se ele não diria nada, mas ele ainda parecia pensativo. Tinha um corte na bochecha esquerda, desde ontem, e parecia não querer falar sobre aquilo.

Suspirei.

- Vampiro supremo? – perguntei a ele, enquanto desviávamos de troncos e galhos.

- Vampiros-zumbis.

- Fizeram quantas vítimas? E onde? – Como passei boa parte do tempo no hospital, não tinha assistido aos noticiários, muito menos tive vontade de ler as manchetes dos jornais de Honorário. Não estava com cabeça.

- Nenhuma, ainda. Mas li notícias de que um cemitério teve algumas de suas tumbas abertas, e tudo aponta que os zumbis estão nessa parte da floresta, considerando que há um cemitério pequeno nesse bairro.

Estávamos numa região que eu nunca havia passado antes, adiante do colégio Martins. Realmente havia um cemitério no bairro Caroliny Trindade, onde morava o Joe, e ficava próximo à região onde estávamos agora.

Pois é, o Riku podia ser chato, orgulhoso, metido, arrogante, estranho, mas a verdade era que ele era muito inteligente e atencioso também, eu só não sabia se para proteger pessoas ou para matar vampiros mesmo, por curtição. Imaginei que um pouco dos dois.

Atravessamos uma linha de trem – a mesma que cortava Honorário verticalmente, transportando trens interurbanos – e paramos. Ou melhor, Kelan parou, nos fazendo parar também.

- Já cansou? – perguntei.

- Quieto – disse ela, num cochicho.

Riku também estava atento, olhando ao nosso redor; fiz o mesmo.

- Só tem árvores – falei, pois geralmente os vampiros-zumbis faziam rituais em clareiras, para o demoníaco e aterrorizador Onikira (o deus deles). Queriam ressuscitá-lo? Não sei. Para mim não passavam de um bando de iludidos. Enfim.

Kelan e Riku ainda olhavam à nossa volta, como se quisessem enxergar dalém dos troncos. Eu só conseguia ouvir o zumbido de mosquitos – além dos vaga-lumes, que acendiam e apagavam num ritmo que fazia parecer que estavam dançando.

- Vou me transformar –Riku disse baixo –, assim vou poder senti-los.

O Medeiros afastou uma perna da outra e dobrou os joelhos, fechando os punhos. Fechou os olhos, se concentrando, e nesse instante meu corpo se arrepiou, e senti presenças pulando em nossa direção.

Riku abriu os olhos e sacou sua Takohyusei, e fomos atacados por dezenas de vultos vindos de todas as partes.

Desviei de várias garras e golpeei um dos inimigos com um chute. Riku enfrentou três homens de uma só vez, enquanto Kelan manejava um sabre de lâmina fina, cortando de raspão o corpo de várias criaturas de olhos vermelhos em ataques extremamente rápidos.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora