17 - Um dia de adestrador

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Eu realmente não planejava passar o meu domingo com um cachorro vermelho gigante e um místico que pode se transformar em cachorro.

Mas, como já falei ao Dio antes, nem tudo sai como queremos.

O fato é: eu precisava fazer com que Billy me obedecesse. Eu só não imaginava que seria algo tão difícil assim. Uma verdadeira prova de paciência e estratégia. Algo que eu não estava preparado psicologicamente.


- Por que acordou tão cedo hoje, Natinho? – minha avó perguntou, porque geralmente, aos finais de semana, eu durmo até às meio-dia.

Você já sabe que a minha vozinha é uma ótima cozinheira. Na sua juventude, ela já trabalhou nos mais importantes restaurantes de Victanzil – e olha que a comida de lá dá de dez a zero na comida daqui, salvo, é claro, a Lanchonete Lendária. Falando nisso, não sei se eu já te disse, mas até o Juca já chamou minha velinha para trabalhar. Ela só não aceitou porque já tem certa idade. Até seus cabelos roxos já estavam esbranquiçados.

Hilário, não acha?

Enfim. Hoje comíamos torradas caseiras que tinham gosto de presunto. Elas só perdiam para os famosos bolinhos de chuvas dela, que eu amo demais.

- Vou ter que adestrar o cachorro do Dio – eu respondi.

Quando eu disse "adestrar", ela me encarou com olhos sarcásticos que eu conhecia muito bem: desdém.

- O que foi? – eu perguntei.

- Você nunca se deu bem com animais.

- Isso é passado. E além do mais, o Billy é um cachorro diferente.

- Um Ultradimensional, não é? – ela disse, e eu a encarei imediatamente.

- Como assim? – franzi o cenho.

- A raça do cachorrinho Billy. Realmente muito rara. Seu pai sempre quis ter um. Além de poderem ficar maiores, esses cachorros podem viajar por dimensões ao serem chamados pelo dono.

Ocorreu-me que Billy já havia mesmo aparecido de repente para o Dio ao ouvir um "Modo Ataque!". E isso me trouxe lembranças recentes, mais especificamente da nossa última caçada, o Dio convocando o Billy para distrair aqueles vampiros do porto abandonado para que pudéssemos chegar ao "chefão gay" na ponta daquele píer.

- Só tenha cuidado para não ser mordido – minha avó advertiu, embora levasse um tom muito sarcástico na voz.

- Relaxa – eu mordi uma torrada -, o Billy e eu somos grandes amigos. Não tem como ele não me obedecer.


- Billy, senta, velho, é só isso que eu te peço – falei pela quinquagésima vez, já completamente impaciente. E mais uma vez ele não me obedeceu.

- Desse jeito, vai ser mais fácil você acabar sentando – Léo caiu na gargalhada, o que me irritou ainda mais.

Estávamos na margem do Rio das Águas Pesadas. Como hoje é domingo, folga para os discípulos do tio Michael. Guga ainda estava na investigação com o Kai e a Thalia. Jake e Joe devem estar de boa comendo na Lanchonete Lendária, talvez com o Riku, ou com a Zoe, ou até mesmo com a chata da Kelan. E eu estou aqui, treinando esse cachorrinho teimoso.

Após cortar um pedaço do fardamento de um dos Detentores, Riku deu à mim a missão de descobrir se a Júlia é ou não é um deles. E como tenho que fazer isso? Simplesmente fazendo com que Billy sinta o cheiro do pedaço de pano e tente encontrar o mesmo odor nessa garota – e para isso eu preciso levar o cãozinho para a escola, mas com uma certa autoridade sobre ele, da mesma forma que o Dio fez uma vez um tempo atrás. Claro, eu sei que tudo seria mais fácil se mostrássemos uma foto da loira para a Zoe, entretanto não poderíamos envolvê-la em algo assim, já que o alvo desses tais Detentores são vampiros e os próprios místicos – além dos, agora, caçadores, é claro. E aqui estou eu, treinando o meu adestramento – que, não sei se você notou, não é dos melhores.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora