03 - Luta na chuva - O porto-enxame!

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- Velho, vocês estão me irritando – disse Natsuno.

Havíamos acabado de sair da estação de metrô José Pinheiro, um dos bairros centrais de Honorário, e nos esgueirávamos por uma rua deserta sentido Rio Oitavo, um rio extremamente largo que cortava a cidade horizontalmente. Era por meio dele que vinham navios de outras cidades, seja de turistas, seja de viajantes. Era por meio dele também que o lixo da cidade era despejado em outro lugar, através de navios especificados para isso.

Uma observação: era o único rio limpo de Honorário, e a prefeitura priorizava totalmente aquilo.

- Vão continuar mudos? – Natsuno estava impaciente. Corríamos por uma rua repleta de galpões antigos e armazéns. Aquela era uma região industrial do bairro, sem nenhum tipo de tráfego a não ser o nosso.

Natsuno suspirou, ao meu lado.

Eu não sabia o que abalava o Riku, mas a minha cabeça estava completamente cheia. Primeiro, pelo mico que paguei na escola. Como fazia parte do time campeão, praticamente a escola inteira me conhecia por jogar futebol. Agora, me conheceriam por ter sido humilhado por uma das garotas mais populares e atraentes do colégio Martins, que inclusive me chamou de cafajeste e enganador de garotas.

Tinha também o fato da Zoe ter me dado conselhos. Conselhos estes que me preocupavam. A Zoe queria que eu contasse toda a verdade à Sophia! Mas como eu faria aquilo?

Paramos.

Olhei ao redor e só vi fábricas velhas. As ruas eram de paralelepípedo. A iluminação era péssima. E a noite estava nublada. Esfriara de forma drástica, e me arrependi de não ter colocado uma blusa de frio. Natsuno também tremia ao meu lado.

Estávamos encostados no muro do último edifício da rua, na esquina. Adiante, havia a rua adjacente que margeava o gigantesco Rio Oitavo, águas tão escuras que eu mal conseguia ver os navios atracados perto dos terrenos enormes repletos de contêineres.

Imaginei que ali funcionava – há um milhão de anos atrás – uma fábrica portuária. Não havia sequer um sinal de vida, apenas pilhas de caixotes de lata organizados como se formassem um labirinto.

- Qual é o plano? – perguntei ao Riku.

- O de sempre.

O de sempre, pensei. Pois é, fazia dias que estávamos caçando os "peixes grandes" da cidade. Bem sabemos que os enxames urbanos tomam vários pontos de Honorário, alguns sendo liderados por vampiros evoluídos, outros sendo liderados por vampiros supremos. Ano passado, nas nossas primeiras caçadas, Riku, Natsuno e eu invadimos um hospital abandonado e fomos cercados por vários vampiros evoluídos, sendo salvos por um arrogante Sacerdote Divino. Éramos fracos, na época, portanto quase morremos – além de termos sido proibidos de caçar na cidade. Mas isso foi antes de deixarmos de ser Aprendizes de Caçador. Decidimos que acabaríamos com todos os enxames, consequentemente invadiríamos vários territórios infestados pelas criaturas. Em duas semanas já havíamos exterminado três vampiros supremos, o que já era considerável. E sempre utilizando o mesmo plano – sangue para ocultar o cheiro e fones para se comunicar. Entretanto, eu não conseguia ver um lugar para os inimigos se esconderem naquela fábrica abandonada. Só havia contêineres ali. A não ser que os vampiros os fizessem de moradia.

- Riku, você tem certeza que os vampiros ficam ali? – perguntou Natsuno, como se estivesse lendo meus pensamentos.

- Estão havendo mortes nessa região – Riku foi arrogante como sempre.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora