Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETO

09 - Três espiões demais

A escuridão predominava de tal forma que nem mesmo os ratos ousavam passar por aquele beco. Situava-se numa das regiões mais desertas do oeste de Honorário, um bairro rodeado por prédios velhos e de tintas desgastadas. Moradores tinham medo de sair de seus apartamentos à noite, uma vez que assassinatos eram frequentes na região. Assassinatos que ninguém se atrevia a tocar no assunto, fazendo com que a mídia, ou até mesmo caçadores, desconhecessem. Ninguém arriscava o pescoço.

Mas então houve uma movimentação. Alguém corria a passos ligeiros. Um homem surgiu das sombras e pulou para a rua, correndo desesperadamente sem olhar para trás. Seus olhos eram vermelhos cintilantes. Havia veias grossas pelo seu rosto.

Um vampiro evoluído.

Dobrou à direita e trombou em alguém, caindo no chão com o impacto. Ergueu os olhos e uma garota loira o encarava, soando tão sombria quanto perigosa. Ao seu lado, na calçada, pelo menos quatro sujeitos robustos a acompanhavam. Todos vestiam o mesmo fardamento preto.

Júlia sorriu.

O vampiro levantou-se desesperadamente e deu meia-volta, dando de cara com outra meia dúzia de homens e mulheres com o mesmo uniforme, todos armados com revólveres.

Estava cercado.

- Q-quem... quem são vocês? – Rosnou, sentindo um pavor tomando conta de seu corpo. Claramente não eram caçadores.

- Pode nos chamar de Detentores – Júlia falou com escárnio, dando um passo à frente. A criatura trincou os dentes afiados, fuzilando a garota com o olhar, e avançou em sua direção com garras pontiagudas. Júlia apenas abaixou-se e agarrou o braço do inimigo, o derrubando no chão com força, em seguida colocando a ponta de uma de suas adagas encostada ao pescoço do vampiro.

- Nada delicada, como sempre – um de seus companheiros, um homem alto e pardo, brincou.

- Quieto, Robert – Júlia replicou, mas sem tirar os olhos castanho-claros do vampiro caído. Com a mão livre, jogou o rabo-de-cavalo loiro para trás, uma vez que haviam voado para seu rosto graças ao movimento anterior.

- O que vocês querem comigo? – a criatura rosnou, seus olhos escarlates fitando a adaga afiada. Júlia, apesar de bonita, mostrava-se firme, e respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se sequer tivesse capturado um vampiro:

- Você não gostaria de saber. Mas já que perguntou, nós viemos fazer da sua vida o pior pesadelo.

Poucos minutos depois, Guga e Thalia estavam no mesmo local, a esquina que, outrora, fora habitada pelo vampiro evoluído e pelos Detentores.

- Chegamos tarde – Thalia lamentou, fazendo sua Takohyusei de vidro voltar a ser um simples anel transparente.

- Você tem certeza que estiveram aqui? – questionou o garoto-invisível, fitando uma Thalia que tinha as íris de seus olhos puxados totalmente amarelas; chegava a ser assustador.

- Basta olhar o chão – ela disse, olhando para baixo atentamente.

Guga via-se apenas numa esquina entre duas ruas desertas, sem movimentação alguma a não ser de algumas baratas perto de um bueiro. O bairro em si era repleto de prédios velhos e postes que mal funcionavam. A calçada parecia normal, mas não para a garota. Thalia parecia ter visão raio-x, com olhos que pareciam enxergar o oculto.

Guga coçou a cabeça. Já fazia duas semanas que passeavam pela cidade à procura de pistas da tal organização, mas só o que encontravam – o que sempre encontravam – era algo que somente ele não conseguia ver.