28 - Os mercenários da Eclipse do Caos

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- Lar, doce lar!

Ele encheu os pulmões de ar puro e soltou tudo de uma vez, enquanto apreciava a bela paisagem à sua frente, a praia de maré tranquila e ladeada por mulheres com biquínis coloridos e homens musculosos, alguns jogando vôlei na areia.

- Eu ainda sonho em morar num lugar desses, pena que a grana não é o suficiente, ainda. – Ele deu um passo para trás e encarou novamente o quadro do quarto, que era tão realista que parecia a vista de uma janela. Mas não era, era apenas uma pintura. – Por isso que é ruim ser pobre. Será que o velhote vai nos pagar assim que fizermos o nosso trabalho? Ou ele vai ficar de enrolação com a gente? Fala alguma coisa, amigo, agora nós somos parceiros.

O homem com chapéu de cowboy suspirou, combatendo o impulso de espancar aquele tagarela. Ao invés de ficar de frente para uma mera pintura, preferiu se sentar numa das camas do quarto e estudar os rostos das fotos em suas mãos, os garotos que emboscaria.

Num piscar de olhos, rápido como o vento, o tagarela já estava ao seu lado, olhos esverdeados fincados nas fotografias.

- Sério mesmo que ganharemos aquilo tudo só por esses otários? Fácil demais.

- São caçadores e místicos – Gilberto disse rispidamente, estudando Riku Medeiros e Natsuno Kogori, depois Joe, Guga, Jake e Leonardo. – As informações que recebemos ontem à noite diz que esse aqui – mostrou a foto de um garoto loiro -, um vampiro, foi embora já faz quase duas semanas-

- Ontem à noite? – o tagarela perguntou, um sotaque nordestino. – Quem? Como? Onde?

- Você estava dormindo, inútil – Gilberto o encarou, olhos esverdeados e selvagens que contrastavam perfeitamente com o seu rosto severo, barba rala e mal feita. – Se estivesse mesmo levando a sério o nosso serviço, estaria melhor informado.

Num piscar de olhos, o tagarela estava diante do quadro novamente, fitando a pintura com olhos sonhadores.

- Ah, a praia – disse, sorrindo esperançoso. – Na minha terra era o que mais tinha. Pra que fui sair de Fortaleza, hein? E tu, Gilberto, é de onde? Ouvi falar que no Acre não tem praia, é verdade?

- Se você não calar a merda dessa boca, juro que eu mesmo calo, e garanto que ficar sem dentes não é nada bom.

O outro engoliu em seco.

- Tu não gosta muito de brincar, não é mesmo? Bem, dizem que os caipiras são assim mesmo, marrentos e ignorantes. Quer saber, vou dar uma voltinha. Aqui em Honorário deve ter alguns lugares bons para... assaltar – ele sorriu maldosamente.

- É a melhor coisa que você faz – Gilberto disse com desprezo. – Porque você já está enchendo o saco. Maldito.

O tagarela deu de ombros e, no segundo seguinte, já estava na porta, passando muito rápido pelo cowboy e fazendo seu chapéu branco tremeluzir com a ventania da corrida. Acenou para o místico e fechou a porta.

Gilberto ficou sozinho naquele quarto de hotel, estudando as fotografias cedidas pelos seus superiores, rostos de adolescentes que, em breve, começaria a caçar.

- Vocês me darão um bom lucro – disse sozinho, sorrindo melancolicamente. - Matar é uma das minhas especialidades, principalmente matar seres anormais e irritantes.


Pela milionésima vez, Léo errou o alvo. Depois, foi a vez de Joe. Os dois tentavam de todo modo, com pedras pequenas, acertar um pedaço de tronco que flutuava no rio.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora