Epílogo - Um presente e uma promessa

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Silenciosamente, nós caminhamos através das agitadas árvores daquele cemitério, cujas folhas balançavam com a brisa da tarde.

Passamos por túmulos de pessoas que um dia tiveram um sonho, objetivos. Naquele ambiente, eu me sentia deprimido. Pensava ainda no meu amigo, e consequentemente no meu pai. Pensava em como a vida era injusta com as pessoas boas. Ou seria o destino? De qualquer forma, eu sentia que tudo era minha culpa. Realmente, ser o Caçador Lendário era uma coisa que eu não desejava a ninguém, por mais irônico que isso soe.

- Obrigado por ter me tirado de lá – eu disse pela primeira vez, desde que saímos do hospital. Ainda estava surpreso – e feliz – pela aparição do meu Guardião Hara, embora ele continuasse com aquela expressão séria.

Ele apenas anuiu com a cabeça.

- A sua mãe nem sabe que estamos aqui – ele disse sem me olhar. Embora estivesse sério, não parecia irritado – porque motivos ele tinha de sobra para isso. Veja bem, eu quase o matei, acordando da forma que acordei. Yasmim dissera que eles se salvaram por pouco, e mesmo que fossem imortais, poderiam ficar perdidos para sempre no fundo do fundo da minha mente. – E ela nem pode saber – Hara continuou. – O Dr. Sanchez está fazendo de tudo para que ninguém conte a ela. Sua saúde ainda está fraca.

Nem precisava ele dizer isso. Eu ainda sentia o meu corpo dormente e, de vez em quando, meus joelhos bambeavam. O pior era que sequer eu podia beber uma das bebidas especiais. Hamano dissera que poderiam me matar.

- Afinal, por que você me trouxe aqui? – Eu o fitei. – Essa desculpa de que eu precisava desabafar no túmulo do Léo não colou comigo.

- De fato. Eu preciso te dar uma coisa.

Passamos por uma menina cujos cabelos me chamaram a atenção. Ela estava prostrada diante de uma lápide, chorando, de costas para mim, portanto não era possível ver o seu rosto, mas ela era negra e tinha os cabelos lisos. O destaque era a californiana pink que me fez lembrar da Yasmim – pois o meu Anjo da Guarda parecia ter roupas somente desta cor no seu guarda-roupa.

Claro que a menina não era a única pessoa no cemitério, entretanto eu senti uma curiosidade em ver o seu rosto. O que não aconteceu, evidentemente. Continuamos caminhando pela trilha de barro em direção a algum lugar, passando por mais lápides e algumas catacumbas que constituíam o cemitério Mesquita, situado no bairro onde o Jake morava.

- Anteontem eu tive uma pequena conversa com o Riku – Hara quebrou o silêncio.

- Faz tempo que não o vejo. Acho que ele não gosta muito de fazer visitas.

- Ele foi embora, na verdade.

Assim que disse isso, eu quase tropecei.

- Pois é – Hara lamentou. – Mas eu entendo ele. O Riku é igual ao pai. Nunca gostou de trabalhar em equipe. Não é à toa que seu clã é conhecido como o Clã dos Lobos. Ele é um típico lobo solitário.

Eu tentei ignorar essa parte bizarra. De alguma forma, eu senti que aquilo também era minha culpa. Conhecia bem o amigo que tinha para saber que ele possuía um orgulho gigantesco. E digamos que eu peguei pesado ao dizer aquelas coisas após, simplesmente, salvá-lo daquele místico assassino.

Cerrei os punhos. As coisas estavam mudando mesmo.

- Mas não foi pra isso que eu te chamei.

Hara finalmente parou. Havia poucos túmulos onde estávamos, e alguns deles estavam recentes. Deduzi que o do Léo estava entre eles.

Hara se virou para mim e pôs a mão no bolso da calça. Tirou o que guardava e esticou a mão para mim, fazendo os meus olhos se arregalarem drasticamente.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora