15 - 11 de Março

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Minha respiração acompanhava perfeitamente os meus batimentos cardíacos.

Embora o espaço apertado estivesse fervendo de calor, o meu único pensamento estava voltado para a cena que acontecia do lado de fora do guarda-roupa.

Impossível! Meu pai era um homem muito forte! Como poderia ter perdido daquela forma?!

Shaong caminhava ao redor do quarto tranquilamente. Um sorriso malicioso estampava o seu rosto repleto de cicatrizes finas. Sua crueldade e frieza eram assustadoras.

- Por que não aparece, Ricardinho? – ele gritou, divertidamente.

Meus pais pendiam do teto através de uma corrente que estava presa numa espécie de gancho, posto lá pelo maldito, de forma que balançavam de um lado a outro de cabeça para baixo. Meu pai já estava morto, sangue escorrendo de sua cabeça e pingando no piso rapidamente. Minha mãe estava viva, incrivelmente intacta, mas lágrimas desciam por seu rosto.

- Ricardinho? – Shaong chamou, e olhou na minha direção. Senti meu coração parar por alguns segundos, enquanto uma tremedeira fazia minhas pernas bambearem. – Menino levado – disse ele. – Pensa que vai se esconder por muito tempo?

Ele empunhava uma espada de lâmina larga e afiada. Vestia camiseta regata azul-escuro e calças jeans claras. Músculos o faziam parecer ainda mais monstruoso.

- Se você não vai aparecer – Shaong ficou de costas para mim, e ergueu sua espada – eu vou fazer logo o meu servicinho.

Quando notei sua intenção, era tarde demais. A lâmina estava sendo direcionada em direção à minha mãe. Num súbito impulso, pulei para fora do guarda-roupa e avancei em sua direção. Shaong olhou de esgueira para mim por cima do ombro, mostrando olhos terrivelmente amarelados, e naquele momento a minha coragem foi embora. Ele cortou a cabeça da minha mãe e virou-se para mim, mas eu pulei para o lado e disparei para fora do quarto sem olhar para trás. Desci as escadas muito depressa e mergulhei na rua, que estava tão sombria quanto deserta. Não parei um segundo. Só queria fugir. Não poderia mais ficar naquele lugar. E o fato de meus pais estarem mortos fazia com que meu coração se tornasse corrompido.

Corrompido pelo ódio.

Meus instintos foram ativados. Olhei para trás no exato momento em que a espada de Shaong vinha na minha direção.

Acordei.

Quando minha consciência voltou, eu estava no meu quarto, sentado na minha cama, respirando pesadamente.

Mais um maldito pesadelo, pesadelo este que tinha como cena aquela noite.

- Desgraçado – murmurei em meio ao silêncio.


- A sua mãe não te ensinou bons modos? – o babaca do meu tio perguntou, quando me viu tomando o café da manhã enquanto assistia ao noticiário. – Já ouviu falar em "tomar café com a família", garoto?

Eu não respondi. Não estava com paciência. Ele fazia de tudo para me provocar, usando desculpas esfarrapadas para me encher o saco.

- ...cada vez mais mortes estão marcando as principais regiões da cidade – dizia a repórter, do Bom dia Honorário, enquanto mostrava corpos sendo colocados em ambulâncias. – A polícia ainda investiga o que está causando tanto tumultuo. Os vizinhos das redondezas não dizem nada a respeito, tratando o assunto como se não soubessem de nada, mas acredita-se que algo fora do normal está ocorrendo. Logo voltaremos com mais notícias.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora