47 - Raiva e culpa

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Por mais que eu não entendesse de onde aparecera aquele traje e aquele arco, era impossível deixar de lembrar que o meu amigo estava morto. Embora eu me sentisse poderoso e apto a fazer qualquer coisa, a lembrança do rosto desfigurado do Léo fazia uma ira gigantesca tomar conta de mim.

Natsuno e o garoto dos cabelos cacheados me olhavam pasmos, e notei que o Joe havia desmaiado novamente. Billy permanecia imóvel, esperando por qualquer ordem minha. E o careca dos olhos verdes me fitava com uma mescla de curiosidade e temor.

Fechei os olhos e me concentrei, tentando sentir a energia do maldito cowboy assassino. Ele deveria estar por perto, escondido em algum lugar.

Eu senti duas energias não muito longe: sem dúvidas, um caçador e um místico, em batalha. Não sabia dizer como sabia que eram dessas raças, simplesmente... sabia – e um deles era o Riku, transformado, provavelmente, no Caçador Elementar do Vento; o outro possuía uma energia extremamente maligna.

O cowboy.

E eu ia atrás dele.

De repente, o careca avançou em minha direção. Ele partiu tão velozmente que eu não consegui acreditar; mas consegui ler seus movimentos perfeitamente e desejei que a temperatura do meu corpo aumentasse.

Ele desferiu um soco e se arrependeu. No momento em que sua mão tocou em meu rosto, ele gritou feito um louco, completamente desesperado. Sua mão ficou vermelha, como se ele a tivesse mergulhado em água fervendo.

- DESGRAÇADO!! – ele berrou.

Eu o olhei e ataquei. Rápida e fortemente, afundei meu soco em seu estômago, fazendo meu punho – que já brilhava com a aura laranja – flamejar no último momento:

- Punho de fogo! – gritei. Senti sua camisa chamuscar, na região da barriga, e o místico cuspiu sangue enquanto arregalava os olhos e voava a vários metros no ar. Ele desabou no gramado e ali ficou, imóvel. Se estava inconsciente ou não, eu não fazia ideia. Tinha um assassino mais importante para matar.

- Vocês dois, cuidem dele – falei ao Natsuno e ao místico que, analisando melhor, parecia um garoto-coelho – ele tinha olhos afastados um do outro, dentes enormes e um focinho bizarro. Ocorreu-me que eu o vira na escola, no primeiro dia de aula desse ano, conversando com o Kai. Ele só não estava transformado naquela época.

Desajeitadamente, ele anuiu com a cabeça e sorriu de forma desengonçada, aparentemente aliviado. Dei uma última olhada para Natsuno e senti raiva. Raiva porque ele deixara o Léo morrer. Natsuno me olhava sem acreditar, provavelmente pela forma que derrotei o místico da supervelocidade, e talvez notando a minha ira, desviou o olhar. Parecia estar se sentindo culpado.

Meus olhos arderam muito forte, e eu quase cedi. Pestanejei algumas vezes e respirei fundo. Os meus braços estavam avermelhados e esfumaçavam feitos lava no interior de um vulcão, talvez por conta da aura alaranjada que não sumia.

Eu parti na direção que estava ocorrendo a outra batalha, adentrando na floresta, e notei que a energia do Riku estava muito mais fraca. Por onde eu pisava, deixava rastros de chamas na grama alta. Percebi isso quando decidi olhar para trás. Embora estivesse magro e desnutrido, eu me sentia o homem mais forte do mundo. Até pensei em sacar a minha Takohyusei para ganhar ainda mais velocidade, no entanto, já estava veloz o suficiente. Não demorou muito para chegar à clareira onde sentia as duas energias. E vi o próprio Riku caído no chão, enquanto o maldito do cowboy caminhava em sua direção dizendo alguma coisa. Cheguei tão rapidamente que os dois só perceberam quando eu já estava à frente do Medeiros, parando abruptamente e sentindo o gramado abaixo de mim pegando fogo. Aliás, tudo à minha volta parecia quente.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora