49 - O orgulho do Caçador do Vento

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Alguns dias se passaram desde o velório do Léo. Dias de angústia, pois eu me sentia um completo inútil. Estava fraco e desnutrido, e ninguém me deixava sair da cama. Uma coisa que eu não conseguia obedecer.

Sempre que ficava sozinho, me levantava para fazer exercícios. Meu corpo doía, e eu até cansei de desabar no chão graças à fraqueza que me dominava, mas não podia ficar ali por muito tempo, sem fazer nada. Precisava voltar a caçar o quanto antes. Vira-e-mexe eu recebia algumas visitas, amigos que demonstravam que sentiram a minha falta, e matei a saudade de muita gente, especialmente da Zoe. Todavia, eu ainda estava com raiva do Natsuno. Uma raiva que eu não conseguia controlar, e até tentei disfarçar – e tenho certeza que ele percebeu, pois o clima ficou estranho –, mas eu ainda não conseguia aceitar o fato de ele ter deixado o Léo morrer. Se viram que o adversário era tão forte, poderiam ter fugido, ou pelo menos pedir ajudar, e não enfrentar os dois assassinos da forma que fizeram.

Eu não me conformava com aquilo – e confesso que nem me importei quando ele disse que o Riku não aparecia na escola havia alguns dias. O Riku era mais um que não serviu de nada quando mais precisamos dele. Eu precisava mesmo relaxar, e a única forma era treinando.

Alonguei meus braços e pernas, fiz flexões, abdominais, e treinei alguns socos. As dores que sentia eram insuportáveis, porém necessárias. Eu percebi que a dor era um ótimo instrumento de desabafo.

A porta se abriu e Sophia quase gritou quando me viu treinando alguns chutes.

- O que você pensa que está fazendo?

Ela me obrigou a voltar para a cama, e eu suspirei.

- Não posso ficar aqui para sempre – falei, olhando para a janela, o céu azul que decorava a tarde de Honorário.

- Mas precisa se recuperar – ela disse, irritada. – Olha o seu estado!

Notei que ela referia-se à minha condição física. Sempre que ia tomar banho no banheiro, eu ficava alguns minutos olhando para o meu reflexo no espelho. Eu estava feio demais, com o rosto magro e os olhos fundos. Considerando que fiquei quase dois meses em coma, seria um pouco difícil voltar à minha forma normal, e olha que eu estava em ótimo condicionamento antes de sofrer a pneumonia. Afinal, passei o mês de janeiro inteiro treinando! Uma pena...

- Não comenta isso com a minha mãe, por favor – eu pedi, um pouco bravo e um pouco receoso. – Eu não quero preocupá-la.

- Então para de fazer esses esforços. – Sophia estava mais brava do que eu, e me olhava com aqueles lindos olhos castanhos que costumavam me fuzilar na escola, uma vez que Sophia vivia irritada comigo. Pelo menos agora ela sabia de todos os meus motivos. Ela corou ligeiramente quando percebeu o meu olhar. – O que foi?

- Nada – falei sem jeito. Eu estava muito mais envergonhado, já que a minha aparência não era das melhores. Eu precisava urgentemente cortar o cabelo.

Então algo me ocorreu. Sophia me fitou com curiosidade, e decidi tentar:

- Sophia, é só isso que te peço.

- O quê?

- Por favor, não diz que não.

Ela riu.

- Fala logo!

- Você promete que vai aceitar? – Com isso, suas bochechas enrubesceram ao ponto de Sophia parecer um pimentão, e então eu percebi o que ela provavelmente estava pensando.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora