30 - A decisão de Sandro Macedo

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Lia acordou num pulo após ter um pesadelo horrível.

Olhou em volta: estava em seu quarto. Tão silencioso que as batidas de seu coração provocavam um barulho ensurdecedor; e atormentador. O único ponto de iluminação era a janela que dava visão para o jardim artificial, cujo céu mudava conforme o céu lá fora, e agora tinha o tom fraco do nascer do sol.

Eu vou acabar com a Eclipse do Caos, Diogo dizia em seu sonho, uma maldade horripilante em seus olhos. Ele estava aos prantos sobre uma lápide de pedra, num dos pequenos cemitérios de Honorário. Mas quem havia morrido?

Lia pensou em correr até Hebert Kogori e contar o que viu, mas ia dizer o quê? Nada poderia mudar o futuro, nem mesmo conseguira ver, no sonho, o nome que estava gravado na lápide. E o que adiantaria se soubesse?

Atordoada, voltou a deitar, mãos pálidas sobre o rosto. Por que justamente ela para ter esses sonhos? Por que justamente ela para ter esse poder? Graças a isso, perdera seus pais, fora perseguida e, por conta disso, um homem bom estava desaparecido – e nem mesmo conseguia ter visões de onde ele estava, ou o que estava fazendo.

Tentou dormir, algo que não estava dando certo. O que lhe restou foi ficar observando a luz que penetrava pela janela, imaginando até quando seria refém daquilo que chamavam de "dom".


Léo tomava o café da manhã muito rapidamente, mas não vestia o uniforme escolar. Sua mãe estranhou.

- Não vai pra escola hoje?

- Hoje não, mãe – ele disse de boca cheia, apressado. – Preciso me despedir do tio Michael.

- Como assim?

- A mãe dele. Ela está doente. – Léo engoliu e bebeu um gole do achocolatado. – Ele vai voltar pra Belém para cuidar dela, e vai pegar o avião daqui a pouco.

- Entendi. Seus amigos vão faltar à aula também?

- Eles têm treino, e falta pouco para o time deles estrear no Campeonato Paulista. Pelo visto, só eu que vou ir me despedir do Michael.

Ele bebeu o restante do chocolate e deu um beijo na bochecha da mãe, uma mulher de cabelos castanhos e pele morena. Antes de sair pela porta, a mulher ainda perguntou:

- E o Diogo, está melhor?

Drasticamente, ela percebeu, a expressão do garoto-cachorro contorceu-se em tristeza. Ainda assim, Léo mentiu:

- Está sim. Ele vai acordar logo, logo.

Apesar de ser uma mentira, era no que ele acreditava. E o que mais queria nesse mundo: ter o amigo de volta.

Leonardo passou pelo quintal e mergulhou na rua, correndo em direção à casa de Diogo. Caminhando pela calçada, um rapaz o cumprimentou:

- Fala, Léo, beleza? – Era o líder do bando que, outrora, perseguira Léo agressivamente, na época em que ele se descontrolava. Hoje, todos são grandes amigos do místico, e o tratam com muito respeito.

- Tranquilo – Léo disse passando por ele, muito apressado. Precisava chegar a tempo. Só Deus sabia quando se veriam novamente, ele e Michael.


- Eu prometo que não vou demorar, mana – dizia Michael, dando um último abraço em Sarah e depois acariciando o pequeno Billy, que estava nos braços da irmã; o cãozinho latia tristemente. – E avisa ao Diogo que vou ensiná-lo a dirigir quando eu voltar – embora talvez ele até já saiba – e riu.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora