41 - Praticando arquearia

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- Apesar de a maioria dos caçadores seguirem a tradição de utilizar espadas – começou Hara -, há aqueles que têm a ousadia de caçar vampiros com outros tipos de armas, e acho que você se recorda do clã Hyraion, conhecido como O Clã Selvagem.

- O Clã dos Índios – eu disse, confirmando; Hara anuiu.

- Eles gostam bastante de utilizar lanças e arco e flecha. O clã Vinográdov, também, utilizava dardos e estrelas de metal. Há até aqueles que utilizam facas em suas caçadas, mas ninguém usa armas de fogo.

- É mesmo – falei, agora atordoado. – Por quê, afinal? Acho que seria muito mais fácil matar vampiros.

- Porque isso é sinônimo de vergonha e covardia para os caçadores em geral. Embora haja também os clãs ambiciosos, uma coisa que todos concordam é que precisam ter alguma honra, e um caçador com um revólver, por exemplo, não é considerado como um caçador de verdade. Muito pelo contrário. Ele não precisaria de todo um treinamento rígido. Clãs valorizam aqueles que sabem lutar e manejar bem uma arma branca. Digamos que... isso é uma tradição antiga. E ninguém gosta de ir contra a tradição.

- Entendi – falei, achando a ideia um pouco irônica.

Hara olhou para Yasmim, que assentiu. Ela fechou os olhos e começou a brilhar, da mesma forma que brilhou quando fez aquelas poltronas surgirem, mas o que surgiu, dessa vez, foi um arco simples e uma aljava com dezenas de flechas. Hara as segurava, e mostrou-se satisfeito, enquanto Yasmim voltava a abrir os olhos.

- Uma coisa que você precisa saber: as ilusões da Yasmim são sólidas.

- Isso eu já sabia – falei.

- Sim, claro. Sabe também que poderá sentir qualquer dor, caso seja atingido por um golpe. – Eu fiz que sim. – No entanto, não está sentindo dores no pulmão, ao contrário do seu corpo, que está numa cama de hospital nesse momento. – Um pouco preocupado, eu assenti. Já havia me esquecido do coma, e da pneumonia. Perguntei-me se Hara ou Yasmim não poderiam simplesmente me curar. Deduzi que não, senão já o teriam feito. – Como estamos no seu subconsciente, isso é meio que um sonho, no qual a Yasmim e eu controlamos tudo por aqui. Por isso dissemos que o que você vai sentir vai ser artificial. Menos o seu psicológico. Seu corpo vai cansar artificialmente aqui dentro, mas a sua mente não. A sua consciência está acordada, o que quer dizer que você pensa por si só e, consequentemente, poderá se estressar, ou se irritar, ou se entristecer.

- Isso eu percebi – eu disse, um pouco impaciente. Parecia que eu finalmente estava me dando conta de o quanto queria acordar.

- Então você vai sentir sono também – disse Hara –, e terá que dormir para descansar a mente. Ou então você vai acabar enlouquecendo, já que não sabemos por quanto tempo vai ficar aqui.

- Espero que não muito – falei.

- O que, provavelmente, está fora de cogitação – ele disse. – Por isso, vamos aproveitar o máximo de tempo para treinar. Precisamos nos focar nisso e nada mais. – Senti como se ele estivesse fugindo de algo, como se estivesse falando aquilo meio que para mascarar a realidade. Afinal, ele havia dito que eu estava entre a vida e a morte, o que poderia significar que o coma era profundo e, talvez, duradouro.

- Não precisa se preocupar em escolher as palavras a pronunciar – decidi dizer –, porque precisamos encarar a realidade, não é mesmo? Eu sei que vou acordar, porque sequer decidi o meu destino, ainda. É só uma questão de interpretação. Eu sou um dos Cinco Escolhidos – falei, me lembrando daquelas armaduras do Clã dos Espíritos. – Fica tranquilo, eu vou sair dessa.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora