22 - O Ritual de Transferência

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- A história começa quando tínhamos doze anos de idade, minha irmã e eu.

Reyond e Heloise trocaram olhares, um olhar frio e divertido, Thalia percebeu, depois o mago continuou:

- Nós morávamos na França, vivíamos numa casa humilde, fazíamos parte de uma das famílias mais pobres da cidade. Papai e mamãe sempre nos deram o que tinham de melhor, eles batalhavam por nossa vida, mesmo que para isso tivessem que matar. Até que foram... como vocês caçadores dizem?... caçados. Bem, na minha humilde opinião eles foram assassinados. Assassinados pelos malditos que se proclamam caçadores. Aqueles que pensam que podem tirar a vida de qualquer um quando bem entendem. Que mal tinha, um casal de vampiros, que tem uma família para sustentar, só matar alguns imprestáveis de vez em quando? Mas eles – esses caçadores - cometeram um pequeno erro: nos deixaram vivos. Talvez porque éramos simples crianças normais, e não esperavam nada da gente. Pura ignorância! Insolência!

Reyond e os demais magos gargalharam, enquanto Thalia ainda pensava num modo de fugir dali sem ferir ninguém. Os Detentores tinham seus revólveres apontados para ela, embora Reyond e os demais já tivessem tomado seus assentos novamente, como se a caçadora fosse algo insignificante – e os Ferrarezi não falavam nada, somente ouviam a história juntamente dos outros quatro magos.

- Na mesma noite nós seguimos esses assassinos. Eles passaram por um portal e desapareceram. Minha irmã ficou com medo, disse que estávamos arriscando nossa vida. Mas de que importava? Havíamos perdido tudo mesmo! Eu a puxei até o portal e, quando menos percebemos, sabe onde estávamos?

- Manrold – Heloise disse, e Thalia se surpreendeu.

- A cidade onde se localiza a vila Manjove – deixou escapar, e Heloise fez que sim, apreciando a asiática como se esperasse o momento certo para devorá-la.

Reyond pigarreou.

- Perdoe-nos os mals modos. Minha irmã tem uma feia mania de me interromper – e lançou um olhar perigoso à mulher pálida. – Como eu estava dizendo, nos encontramos num lugar totalmente novo, cheio de gente simples, preenchido por uma cultura totalmente nova para nós. O engraçado dessas cidades é que, quando você é novo no lugar, todos ficam te olhando como se quisessem saber sua origem. E comigo e com a minha irmã não foi diferente. E logo fomos acolhidos por um bibliotecário, que tinha seus preciosos livros como a herança da família. Ele nos encheu de perguntas, mas éramos espertos, papai sempre nos disse para termos cuidado com os caçadores, ou com os amigos dos caçadores, claro. Inventamos boas histórias para o velho homem e acabamos lhe tirando boas informações sobre os verdadeiros assassinos.

Ele parou um momento, suspirando com um sorrisinho no rosto. Os outros magos ouviam tudo como se já tivessem ouvido a história mais de mil vezes. Ninguém parecia impaciente – ou se estavam, não tinham coragem de demonstrar. Lorde Reyond parecia mesmo ser um homem muito perigoso.

- O burro daquele velho nos ofereceu moradia, e logo nos prendemos a ele. Fomos felizes, ele nos ensinou como manejar uma espada ou como enfrentar vampiros, mas mal sabia que estávamos aprendendo aquilo tudo para nos vingar daqueles que haviam matado nossos pais. Esses assassinos não nos reconheceram em momento algum, e também nem fizemos questão para que isso acontecesse. Queríamos apenas esperar o momento certo para matá-los. Em Manrold havia um templo exatamente no centro da cidade que pertencia ao Conselho dos Clãs Especiais, e não demorou muito para que os nossos vizinhos, aqueles malditos fofoqueiros, nos descobrissem. Digo, eles finalmente perceberam que não éramos caçadores. E como nessa vila só havia caçadores, fomos chamados pelos velhotes que todos chamavam de Monges, ou Profetas, tanto faz, para uma interrogação. Água, Henry, por gentileza? – ele virou-se para o senhor Ferrarezi, seu pedido soando mais como uma ordem.

Caçador Herdeiro (4) - Luz Envolvente | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora