1 - Ariana

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— Tudo bem, vamos lá. Bom dia. Meu nome é Ariana, e eu vim pela vaga... A-hem... Bom, meu nome é Ariana, e eu vi o anúncio no jornal... não... ai, e agora?

Em frente ao espelho, balanço os meus cabelos crespos mais que um boneco de posto, tentando ensaiar alguma apresentação para a entrevista que farei em algumas horas. Acabei de sair do banho, mas minha pele escura já está suada! E o dia nem está quente, só para se ter uma ideia. O calor da minha chapinha é o único que aquece meu quartinho aqui neste casebre do Sílvio Mazini, bairro pobre da periferia de Grinter, uma região bastante limitada.

— Vai logo, Ariana, sua lerda — grita minha mãe à porta. — Tem mais gente pra usar o banheiro!

Saio com um sorriso confuso. Pensar na minha primeira entrevista de emprego está me deixando maluca! Quem dera se alguém me apoiasse, se alguém da minha família acreditasse que eu serei a selecionada.

— Até que enfim! Não sei pra que se arrumar tanto se lá ninguém vai te querer mesmo.

— Mãe!?

— Até parece que vão pegar você pra ser alguma coisa na Reemid. No máximo uma faxineira.

Tento fingir que não ouvi o comentário da minha mãe. Poxa, se fosse minha filha indo para sua primeira entrevista de emprego, eu daria o maior apoio, diria vai que você pode, você é inteligente, vão ver seu potencial, a vaga é sua... Sabe, jamais diria uma coisa dessas que minha mãe fala. Ela, sua mãe, suas irmãs... uma família toda que não acredita em mim.

Saio pela porta da frente, dou uma olhadinha na terra do quintal até o muro de tijolos à vista da frente de casa. Minha mãe continua seu sermão, um que prefiro deixar entrar por um ouvido e sair pelo outro. Pego o ônibus circular e, num sorriso íntimo que deixo extravasar até o rosto, disfarço o nervosismo e me imagino contratada.

Eu, trabalhando na Reemid! Um dos maiores escritórios de marketing da cidade! Poderia colocar toda a minha criatividade a serviço das pessoas! E o principal: ganhar bem para isso!

Dá vontade de cantar, pois se tem uma coisa que nunca me afetou foi o preconceito.

Mesmo o de minha própria família.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora