55 - Roviner

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Cinco dos meus homens vêm correndo.

— Qual é? É pra tu tá aqui?

— Espaguete, tão levando tua velha?

— É os caveira, senhor? É os caveira!

— Cala tua boca, malandro!

— Cala tudo! Não tô entendendo ***** nenhuma!

— Os polícia acharam teus bagulho no colchão dela.

— Não é polícia, é os caveira, cara!

— Tô falando, não tô falando?

Com os cinco falando ao mesmo tempo, demoro para sacar os fatos. Minha velha está com os caveiras. Pô, ela é louca mas é a minha velha. Não posso deixar barato. Dou as ordens e meus homens saem vazados. Eles, eu não quero nem chegar perto dos caveiras. Ordens claras: parar o camburão ou seja qual for o carro onde minha velha está.

Pneus derrapando. O cheiro de borracha queimada e os pipocos rolando longe. Uma explosão e depois de pouco tempo sou chamado para ver a velha. Ela está amarrada no porta-malas da caranga verde do Pequeno.

— Pô, onde tu tava com as ideia?

— Meu filho, deixasse eu chegar na delegacia. Eu ia ficar lá pra você não sofrer...

— Não, tá loucona, mais que nunca. Não vou deixar tu ir em cana por minha bronca. A responsa do que faço é minha, morou?

— Não, Rô, eu te amo e ficarei contente em te ver livre.

Essa ideia dela de me deixar livre a qualquer custo só faz me acender a raiva. Não é justo ela pagar pelos erros dos outros.

— Eu que tô no comando da região. Eu vou em cana se quiser, nem os caveira pode comigo. Agora tu que não tem força nem pra dar uma ******* com os velhos do bairro quer segurar minha barra? Tá de sacanagem!

— É por amor. Porque eu te amo.

— Pega esse amor e...

— Espaguete, vamos. Tá vindo mais caveira.

— Filho, lembre-se de Deus. Ele nunca esqueceu de você. É ele que tá te deixando viver. Era pra você ter morrido faz...

Fecho a porta do carro do Dedé e vazamos para outro barraco onde a gente fica mocado até a poeira baixar. O caminho todo as palavras da minha velha ecoam na minha mente. Quantas vezes quase tomei tiro? Quantos tomei e sobrevivi? E ainda toda vez que os polícias acham as tocaias, e a gente consegue outra? Sei que lá dentro o bagulho é doido. Quem vai em cana não sai limpo. Se sai, a cabeça está toda virada. Falaram-me que moleque de catorze, quinze anos que vai em cana dança bonito, porque lá dentro mexem com as ideias do cara, e ele fica com a mente toda ferrada.

— Ih, olha o cara! Tá com dó da velha, Espaguete?

— Cala tua boca, Dedé.

— Vamos te chamar de Mom Spagheti.

— Vai tomar no...

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora