12 - Valdir ♫

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Hoje é o dia! Vai arrebentar! Vai não, já arrebentou!

Acordei no pique, pulei da cama e em menos de dez minutos já estava a caminho. Agora só aguardo os jovens chegarem para partirmos para Sérkera. Os jovens de toda a cidade virão aqui para irmos numa grande caravana.

Fico na porta da catedral aguardando as demais regiões. Os jovens aqui da catedral chegam a pé, cheios de cartazes com frases contra drogas, suicídio, preconceito, e com instrumentos como pandeiros e tantãs. O sol nem despontou direito no horizonte e metade da frota de ônibus já está lotada.

Às dez horas em ponto saímos. São aproximadamente duas horas e meia de viagem, seis ônibus fretados para o evento, todos cheios, inclusive alguns com gente em pé.

Mais da metade não é da FJ. Mais de cem jovens, mas se uns dez permanecerem depois deste evento, já valeu a pena todo o sacrifício que vai ser para pagar esses ônibus.

Tirando uma selfie com a galera... e partiu!

*

Alguém acreditou em mim, hoje tô transformado, sou da Força Jovem, tamo junto e misturado! Amo Cristo demais!

— Mas olha só, eu te conheço!

A moça grita para que eu consiga ouvi-la no meio dessa multidão. O evento não acabou ainda, e um duo manda suas rimas no palco montado na pista, acompanhado por milhares de jovens que balançam a mão junto com a batida pesada do rap com letra consciente.

Quando me viro, vejo a novata! A moça que foi contratada para fazer a limpeza dos escritórios da Reemid, onde trabalho há quase um ano.

— Ei, você por aqui?

— Com certeza, acha que eu perderia uma manifestação grande dessas?

— Essa é a fé! Então você já tá por dentro da FJ? Que legal!

— Ah, tô sim.

Vejo que ela é, assim como eu, uma pessoa mais intelectual. Apesar de estarmos aqui na muvuca, nenhum de nós agita tanto quanto a maioria dos jovens. Ainda assim, curtimos a ideia principal do evento.

— Sabe, Valdir, essa manifestação vem bem a calhar. Você nem imagina o que tenho passado por causa da minha cor...

— Sério?

— Racismo! Por isso que vim com vocês. Um rapaz me avisou sobre este evento lá no Mazini, e quando entendi a ideia, topei na hora.

Vejo que ela está um pouco sem jeito com toda a agitação, mas quer ficar no evento. Convido-a para perto das barracas de lanches, longe do palco, onde tem menos jovens. Inclusive vejo meus colegas ali fazendo uma boquinha! Um deles repara que estou com a jovem e se aproxima. Todos nos apresentamos e tentamos conversar um pouco sobre o quadro geral da sociedade, e quanto preconceito a permeia, de todos os tipos e em todos os graus.

Vem também a namorada do meu amigo para a roda, e ficamos os quatro juntos durante o restante do evento. Voltamos depois para casa com a cabeça dolorida de tanto som e sol, mas valeu a pena!

Almas foram salvas. Vidas transformadas. No ônibus mesmo já converso com dois rapazes que decidiram pegar firme depois da palavra que ouviram no SDN.

Arrebentou!

E outra: conheci uma pessoa de visão grande. Exatamente o tipo que procurava para fazer uma parceria. De negócios, é claro.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora