30 - Arnaldo

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Ajudo a grampear os jornais para sairmos. Hoje a Heloísa vem evangelizar conosco, e está bastante empolgada. Espero que ela realmente tenha interesse em ganhar almas, pois seria a prova de que ela é a pessoa que pedi a Deus.

Como de costume, vamos às casas em pares. Na primeira casa, Heloísa fica bastante nervosa, então eu falo com o homem que nos atende. Ele pega o jornal, joga no chão e ainda pisa. Heloísa leva a mão à boca e dobra um pouquinho os joelhos. Eu simplesmente dou as costas e vou para a próxima casa. Que revolta!

Algumas casas adiante somos atendidos por uma moça ajeitada. Eu falo com ela, mas Heloísa gruda em mim com força. A moça é bastante gentil, sorridente, e eu tento corresponder, mas Heloísa fica me apertando a cada palavra minha, até a despedida.

— Amor, o que foi aquilo? — ela sussurra enquanto caminhamos para a próxima casa.

— Só estava fazendo o convite, Helô. Eu é que pergunto, o que você estava fazendo?

— Lembre-se de que você é meu. Não fique aí de papinho com qualquer uma.

— Que papinho!? E pode ser qualquer uma, mas é uma alma. E precisa de Deus, assim como nós.

— Tá, tá ligado. Desculpa, amor.

Ela me abraça e seguimos. Mas na próxima casa acontece a mesma coisa, com o agravante de a moça ter traços orientais, como a Heloísa, e ela sabe que, no fundo, tenho uma quedinha por asiáticas.

A cena de ciúme se repete.

A do jornal no chão também.

Fala-se tanto em sacrifício neste período do ano. Para mim, está sendo um suportar esses ciúmes por amor.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora