70 - Heloísa

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A busca foi maravilhosa! Nunca senti algo tão bom como o que senti hoje. A presença de Deus estava forte. Uma vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Depois da reunião, depois da roda do pessoal do Força Jovem eu sou a que grita mais alto! E para sair da igreja mantendo o bem-estar, voltamos para casa abraçadas, eu e minha mãe. Não falo muito, só fico sorrindo mesmo.

Chegamos em casa e, como sempre, a primeira coisa que minha mãe faz é ligar a TV no canal de culinária. Acho que é culinária, pois só passa competições de gente cozinhando. Que coisa mais chata de assistir. Mesmo assim fico na sala com ela.

— Quê? O que você quer?

— Eu? Nada. Só vou ficar aqui um com você um pouco.

Ela entorta a cabeça um tantinho e volta a ver o programa. Parece meio inquieta. Não demora muito para falar comigo de novo:

— Você nem gosta de cozinhar! Sempre fica fechada no seu quarto... Seu computador tá sem bateria?

— Não, que isso, mãe?! Só quero ficar com você hoje.

Fazer companhia para ela, que está só. Hoje o Róger não está em casa mesmo.

*

Acaba o programa e nós nos levantamos para ir dormir. Agora passa um jornal. É mais chato ainda. A mãe, que estava cochilando, demora para me ver rindo dela. Ela pega o controle para desligar. Nesse meio tempo ainda ouço as manchetes.

Jovem de 21 anos é encontrado morto em sua casa. Ele morava sozinho, mas um casal que o conhecia foi visitá-lo para encontrar apenas seu corpo no sofá.

Peraí, mãe, eu conheço esse casal! São obreiros lá da igreja do Mazini! Aconteceu alguma coisa?

Por mais que nós nos empenhamos em ajudar os jovens que estão passando por alguma situação dessas, só precisando de alguém que os escute, somos tão poucos pra ajudar tantos... — a obreira fala chorando dentro do abraço do obreiro. A repórter continua a matéria falando do jovem encontrado morto sozinho em casa, com sinais de suicídio.

Algo me diz que esse jovem não é qualquer um. Nem vou dormir imediatamente. Mando mensagens para os obreiros mas ninguém recebe. Também, é quase meia-noite. Vou para o quarto, mas demoro para pegar no sono. Um sono leve, e só depois das duas da madrugada.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora