A busca foi maravilhosa! Nunca senti algo tão bom como o que senti hoje. A presença de Deus estava forte. Uma vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Depois da reunião, depois da roda do pessoal do Força Jovem eu sou a que grita mais alto! E para sair da igreja mantendo o bem-estar, voltamos para casa abraçadas, eu e minha mãe. Não falo muito, só fico sorrindo mesmo.
Chegamos em casa e, como sempre, a primeira coisa que minha mãe faz é ligar a TV no canal de culinária. Acho que é culinária, pois só passa competições de gente cozinhando. Que coisa mais chata de assistir. Mesmo assim fico na sala com ela.
— Quê? O que você quer?
— Eu? Nada. Só vou ficar aqui um com você um pouco.
Ela entorta a cabeça um tantinho e volta a ver o programa. Parece meio inquieta. Não demora muito para falar comigo de novo:
— Você nem gosta de cozinhar! Sempre fica fechada no seu quarto... Seu computador tá sem bateria?
— Não, que isso, mãe?! Só quero ficar com você hoje.
Fazer companhia para ela, que está só. Hoje o Róger não está em casa mesmo.
*
Acaba o programa e nós nos levantamos para ir dormir. Agora passa um jornal. É mais chato ainda. A mãe, que estava cochilando, demora para me ver rindo dela. Ela pega o controle para desligar. Nesse meio tempo ainda ouço as manchetes.
Jovem de 21 anos é encontrado morto em sua casa. Ele morava sozinho, mas um casal que o conhecia foi visitá-lo para encontrar apenas seu corpo no sofá.
— Peraí, mãe, eu conheço esse casal! São obreiros lá da igreja do Mazini! Aconteceu alguma coisa?
— Por mais que nós nos empenhamos em ajudar os jovens que estão passando por alguma situação dessas, só precisando de alguém que os escute, somos tão poucos pra ajudar tantos... — a obreira fala chorando dentro do abraço do obreiro. A repórter continua a matéria falando do jovem encontrado morto sozinho em casa, com sinais de suicídio.
Algo me diz que esse jovem não é qualquer um. Nem vou dormir imediatamente. Mando mensagens para os obreiros mas ninguém recebe. Também, é quase meia-noite. Vou para o quarto, mas demoro para pegar no sono. Um sono leve, e só depois das duas da madrugada.
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Quantas voltas
General FictionO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...