Quantas voltas

68 - Ariana

Antes de chegarmos na igreja, eu já tinha avisado a Heloísa que eu queria falar com ela depois do Conexão. Convido-a para se sentar nas primeiras cadeiras, e quando vou dizer um tudo bem? ela me corta a palavra.

— Obreira, já sei o que você vai dizer. Antes do Conexão eu tava assim, meio, sabe, nervosa... É que... né...

Helô fica vermelha. Sua pele ser branca só faz aparecer mais.

— Calma, Helô. Só quero saber como você tá. Percebi nesses últimos dias que você tá meio diferente. Tá tudo bem?

Ela se acalma e respira fundo. Por que está tão nervosa? Será que é vida sentimental?

— Tô bem sim, obreira. É que, na verdade, tava pensando no Espírito Santo...

Agora eu é que fico com as batidas aceleradas. A Helô está pensando no mais importante! E eu pensando que era em algum menino qualquer por aí. Sorrio e ouço-a com alegria:

— É que, tanta gente sai da igreja e fica longe de Deus, mas isso é porque não tinha, não é?

— Sem o Espírito Santo é muito difícil vencer a nós mesmas. Por exemplo, eu era nervosa, você nem imagina. Qualquer coisa nova que eu ia fazer, coisas simples, como uma entrevista de emprego, me dava um nervoso tanto que eu suava, até nas mãos. Esse era mais de timidez, mas eu já cheguei a peitar minha ex-patroa! Tá que ela não era flor que se cheire, mas...

Deus do céu, me perdoa! Que palavra foi essa? A Joana é uma alma. Podre mas é... Ah, de novo. Perdão. Ajuda-me a parar com isso, Senhor, me perdoa. Abençoa a Joana, ela precisa do Senhor tanto quanto eu. Venci uma parte da minha natureza humana, mas outra ainda está firme na batalha contra meu espírito.

— Então se eu receber esse espírito, tô garantida?

— Não, Helô. A luta só acaba quando a gente morre. Ele dá a força que precisamos pra vencer, mas a guerra é nossa. Sempre tem algo pra tirar nosso foco de Deus, seja de dentro da gente ou de fora, sabe?

A guerra não pára. E acho que não é só a Helô que precisa de força. Vou tirar um tempo antes do Conexão para buscar também.