24 - Kleverson

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Um dos mais famosos riffs da Guns N' Roses toca e aparece o número do hospital na tela do meu telefone. Deixo o almoço de lado para atender.

E recebo a notícia que jamais quis receber.

— Mas, tentaram de tudo? Como assim, tentaram de tudo? Se tivesse tentado mesmo, minha mãe não... ah, mãe... mãe...

Jogo o telefone na base com a mesma intensidade que levo as mãos trêmulas à testa. Com os braços cubro lágrimas dos dois lados.

Corro uns três quilômetros até o hospital, mas não me deixam entrar no quarto para ver minha mãe. Dizem que não estou em condições.

Dane-se. Tento entrar a força, mas me forçam a sair do prédio.

Por fim, corro de volta à casa do Arnaldo, mas ele não está. Sento-me em frente ao portão da casa dele. Nem toda a dor de cabeça do mundo que me toma doem tanto. Nem imagino voltar para casa agora, para ficar sozinho. Entre os soluços, coisa que nunca fiz antes, sinto várias pessoas passando pela rua. Crianças que chegarão em casa e terão o abraço carinhoso de sua mãe. Mães que podem dar um abraço no filho.

E agora, o que será da minha vida?

— Moço, o que está fazendo?

Uma senhorinha encurvada me cutuca com sua bengala.

— Está esperando o Arnaldo? E por que chora?

— Não sei se ainda quero falar com ele. Acho que não quero falar com ninguém, senhora. Me desculpa.

— Moço, se não quiser falar comigo, faça como o Arnaldo. Vai numa igreja, fale com alguém que pode te ajudar.

— Que igreja! Ninguém pode trazer minha mãe de volta.

É tão estranho sentir raiva, sendo que não estou com raiva. E a pobre senhorinha não tem culpa de nada.

— Não sua mãe, e sim sua alegria.

Ela vai embora dando passos minúsculos. Seria engraçado se fosse outro dia.

Levanto-me lentamente para a cabeça não explodir de dor. Dou alguns passos sem rumo. Nem chego ao fim da quadra e volto a chorar. Disfarço antes de virar a esquina e continuo caminhando. Talvez se vir uma porta qualquer aberta eu entre.

*

Vejo o Scénic da mãe do Arnaldo em frente a uma porta aberta. Nem sei que lugar é, onde ela deve trabalhar, mas entro. E mais uma vez aflora a saudade de minha mãe quando vejo uma frase num quadro logo na entrada:

Será que uma mãe pode esquecer do seu bebê que ainda mama e não ter compaixão do filho que gerou? Embora ela possa se esquecer, eu não me esquecerei de você!

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora