Fico um fim de semana na casa dos meus tios obreiros da sede, onde converso com minha prima Karen para me atualizar de como estão as coisas aqui fora. As notícias não são as melhores.
Foi uma semana pesada. Um obreiro lá da sede foi assassinado em plena luz do dia! Até levaram na ambulância, mas ele não sobreviveu. Espero que, pelo menos no céu, tenha havido festa. A namorada dele, coitada, a obreira líder do FJ, nem fez o Conexão naquele sábado. A Karen disse que ela queria fazer, mas o pastor colocou o auxiliar dela para fazer.
Também faz alguns dias que a Heloísa não vai à igreja. A Karen comentou que a Heloísa ficou alguns dias meio isolada, até sumir definitivamente. Nem responde mensagens de ninguém. Nem seus pais sabem onde ela está. Será que acionaram a polícia para buscá-la?
Meu Deus do céu, o que foi que fiz com a minha vida, Jesus? Perdi minha família, perdi minha dignidade, perdi meu trabalho, perdi minha pretendente... Perdi tudo! Só me restou os tios e a Karen, e a fé no Senhor.
Ah, e fica pior: ela sumiu com um carinha! Um jovem de outra cidade, com quem ela está ficando! É o que diz minha prima, e é difícil acreditar que a Helô tenha chegado a tal ponto, mas a Karen nunca mentiu para mim.
Se estivéssemos ainda compromissados, eu não teria apenas perdido coisas; teria ganho também. Um par de chifres!
Karen me mostra fotos e mosaicos do Conexão. Vários rostos novos. Graças a Deus, almas estão sendo ganhas. E por mais que eu tenha perdido tudo... Ah, Jesus... Não vou olhar para isso, vou servi-lo inteiro. A Helô eu coloco nas suas mãos.
— E esse carinha aqui? Parece que conheço de algum lugar.
— Ele também é novo, mas é decidido. Já está nos gladiadores!
— Onde que já vi ele? Conhece?
— Seu nome é Roviner, ele era traficante, foi preso e se converteu na prisão. Ele cumpre pena, mas tem direito a umas saídas, não sei como funciona direito isso, não.
Penso um pouco, o quanto consigo pensar, já que minha mente ainda processa todas as perdas.
— Ele era conhecido como Espaguete.
Agora o pensamento fluiu. Conto para a Karen do dia em que eu e o Kleverson o evangelizamos. Quem diria que aquela semente difícil de plantar seria a primeira a dar frutos para mim?
Meu tempo de colher chegou! Tá ligado!
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Quantas voltas
General FictionO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...