51 - Ariana

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Desde que os obreiros Marcelo e Janice se foram, estamos numa luta grande para manter o ânimo. Eles eram os obreiros que mais trabalhavam, os que me deram mais exemplo e me ensinaram a trabalhar. Apesar dos boatos, devo muito a eles.

Faz pouco mais de um mês que aconteceu aquela tragédia, e fiquei de visitar o Centro de Ajuda lá do Sílvio Mazini, para ver como está o filho deles. Tenho trabalhado tanto que o tempo está escasso. Conciliar as dívidas que a Reemid acumulou está sendo um desafio. Penso que Valdir foi precipitado na aquisição daquela empresa, mas foi uma decisão importante. Quem sabe se conseguiríamos abrir nossa filial na capital se não fosse dessa forma?

A prima do Arnaldo é quem me incentiva a irmos visitá-lo. Ela também está sofrendo pela perda dos tios, mas neste mês ela foi umas três vezes lá no Mazini, mas não encontrou Arnaldo. Dizem que ele está afastado, e não foi mais na FJ.

*

Saí mais cedo do trabalho para ir com a Karen hoje lá no Centro de Ajuda do Mazini, pois antes das sete e meia preciso estar na sede de volta. Chegamos lá, mas nesse horário o lugar está vazio. Pensei que havia alguma atividade da FJ na sexta-feira a tarde. Na sede, por exemplo, está tendo ensaio de teatro.

Falo com o pastor, que conta que Arnaldo não aparece há semanas, e ninguém consegue encontrá-lo. A casa dos pais dele está vazia, e o apartamento onde ele morou está alugado. O melhor amigo dele, com quem andava junto, também está sumido.

Quando estamos de saída, chega um jovem cabisbaixo, que nem ergue os olhos para responder meu boa tarde. Já falei com ele uma vez, mas a Karen o conhece mais.

— Kleverson, tudo bem?

— Sim, sim, tudo. Ei, você não é a prima do Arnaldo?

— Eu mesma. Por causa dele que viemos aqui. Sabe onde ele tá?

— Ia perguntar a mesma coisa.

Nós três nos entreolhamos sem palavras. Kleverson vai até o altar e deixa uma rosa seca sobre o mesmo antes de ir para a rua.

— Não tem reunião hoje? — digo um pouco alto, antes que ele vá.

— Ah, tem. Mas tô indo. Tchau.

Nem respondemos. Ele tem pressa.

— Estranho — diz Karen. — Ele está estranho. A obreira dizia que o Kleverson estava tão firme, era um jovem legal, ajudava muito na FJ e tal... Ela falava tanto bem dele. Achei que era quase obreiro também.

— A obreira falava tanto bem dele? Por quê? — digo sorrindo.

Karen sorri por três segundos e volta a expressão de preocupação. Adiciono um lembrete na minha agenda mental: ver como Kleverson está. Assim que encontrar Arnaldo, pois só ele sabe onde Kleverson mora.

Pergunto para os obreiros que vão chegando, e ninguém tem informações de onde está o primo da Karen. Um jovem diz ter ouvido comentários de que Arnaldo estaria envolvido com coisas erradas, mas prefere não comentar. Não consigo imaginar que tipo de coisa errada poderia atrair um jovem que viveu a vida toda na presença de Deus.

É triste. Muitíssimo. Voltamos para a sede com mais dois nomes na lista de afastados.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora