Às vezes tenho saudade da minha mãe. Vontade de ligar para ela não falta, mas há um probleminha que me impede. Apesar de o Felipe não gostar da ideia, ele é um menino muito legal. E toda a galera dele junto. Saímos toda semana, vemos filmes, comemos no shopping, vamos a shows de rock, coisa que nunca me fizeram enquanto estava com o pessoal em Grinter. Agora sei como é ter amigos e se sentir especial para alguém além de Deus. Felipe até prometeu me ajudar a tirar minha carteira de motorista, isto quando ele arrumar um emprego e tiver o próprio dinheiro (não mais depender dos tios).
*
Os Flying Trees! A banda do momento está em turnê, e hoje é um dos últimos shows em Takaci, e não faltamos por nada! Toda a galera desceu para o ginásio aberto para curtir rock de qualidade. Com certeza o pessoal da FJ não me veria com bons olhos se me vissem aqui, ainda mais no show dessa banda. Mas o que importa? Eu estou aqui, e Deus não impediu nada. Ele poderia ter impedido, mas não, me deixou vir, e ele cuida de mim.
Na metade do show, Felipe me abraça, pois as músicas do meio são mais lentas. Gosto muito disso. Ah, ele é tão cheiroso!
— Eu te amo, Helô.
Uau! Essa foi inesperada. Toda a emoção da música, da alegria contagiante da multidão, da dança íntima com o Felipe, tudo se multiplica e torna-se num momento mágico.
— Também te amo! — digo antes de lhe permitir me beijar.
— Te amo tanto que quero ficar com você. Hoje ainda.
Sinto-me nas nuvens. Pelo resto do show.
Logo após fico na casa dele, onde ficam todos durante o fim de semana.
No último dia em grupo, o domingo, Felipe e eu vamos ver um filme romântico. Não precisamos esconder, está claro que gostamos um do outro. Ele me faz sentir mais especial que qualquer Arnaldo. A emoção toda do filme me deixa quase cega, e Felipe me leva para sua casa mais uma vez. Agora com apenas nós dois.
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Sempre pensei que minha primeira vez seria uma coisa linda, especial, para ficar entre minhas melhores memórias. Errei feio. Não foi nada bom. E agora o Felipe parece ter nojo de mim. Voltamos para Grinter sem trocar uma palavra, o que me mata por dentro. Não o deixo ver, mas ao sair da rodoviária para voltar para a casa da minha mãe, despenco em lágrimas. Nem a galera que foi comigo no show percebe. Estou só, mais uma vez.
Homens são todos iguais. Não quero mais saber deles. Torço para não sair um de mim, caso... caso eu tenha uma nova vida no ventre.
Pior dia da minha vida!
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Quantas voltas
Genel KurguO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...