58 - Roviner

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Hoje os moleques estão em festa. Dinheiro no bolso, sem miséria, suave, só de boa. O barulho dos fogos de artifício da virada de ano encobrem os pipocos da molecada. Até vejo o ex-crente no meio. Ele vem andando.

Como assim? O que esse cara quer agora?

— Espaguete, cara, me arruma um brinquedo aí.

Nem respondo. Chamo um dos meus parceiros para dar um jeito no moleque.

Ele reage tão rápido que consegue tirar a pistola da mão do Pequeno e ainda aponta para ele, que só ergue as mãos. Ele não devia estar só com uma arma.

— Essa serve. Valeu, Espaguete.

Pensei em acabar com a raça desse miserável na hora, mas a ideia é outra.

— Mano, mano, calma aí, rapaz. Porque tu não se junta à nossa festinha? O negócio tá bem louco hoje, pro ano começar cabuloso. Chega aí.

Levo o ex-crente para dentro do barraco. Na sala as minas estão até babando por nós. Na cozinha nem há espaço ao redor da mesa, pois a festa rola solta. Tiros não só para o alto durante os rojões, mas também na mesa, o arrozinho do bom. O cara não fica sem jeito, e acho isso estranho. Ele virou a cabeça mesmo. Nem demora muito e o cara volta para a sala e se enrosca numa ruivinha bem safada.

Nem sei quem é mais louco: ele que quer entrar nessa vida, ou eu que tenho de tudo e quero sair.

*

A maioria da galera foi puxar o ronco, mas a festa só acaba qual o sol bater na nossa cara. Mas antes disso vejo o ex-crente saindo do banheiro todo esculachado. Pelo jeito ele virou sujeito homem.

Mas, depois de alguns instantes, minha cremosa sai do banheiro. Qual é o nome dela mesmo? Meu sangue ferve, mas o barato da madrugada ainda está muito louco para arrumar briga. Depois me entendo com o ex-crente. Não bastou a arma, tinha que pegar a mina dos outros. A conta dele está pendurada, e adoro cobrar dívidas.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora