Nessas últimas semanas desde que vim para a igreja do Mazini percebi o número crescente de jovens na FJ a cada sábado. O mais interessante é ver os que eu chamei vindo para a tribo. De três que vieram na primeira vez que estive aqui, hoje somos nove! Até o Arnaldo, o cabeça da tribo, está mais animado!
Depois da FJ ele faz uma roda só com nós da tribo e pergunta sobre os jovens que um dia estiveram na tribo e saíram. Em alguns minutos levantamos (embora eu não diga nenhum nome, pois sou novo aqui) quase vinte jovens. Não adianta descreverem: um skatista de cabelo black power, uma japonesa que só usava preto e blusa de frio, um casal que a moça ruiva tinha um bebê que ficava gritando toda reunião, um rapaz de óculos que fazia Direito e andava manco...
Tantos jovens. Tantas almas. E eu aqui parado.
*
— Arnaldo, e se aproveitarmos hoje a tarde pra juntar a galera e ir atrás daqueles jovens?
Domingo de manhã, depois da roda ao término da reunião, quando a maioria dos jovens foi embora, chamo meu amigo e cabeça da tribo para fazermos algo por aquelas vinte almas que levantamos ontem.
— Hoje a tarde? — Arnaldo torce o nariz e aperta o olho direito. — Cara, tenho tanta coisa pra fazer hoje em casa... Nem dá.
— O quê? Eu te ajudo pra acabar mais rápido!
— Não dá, é... é coisa pessoal.
— Você ouviu o que o pastor falou hoje na reunião, não?
Como esquecer? Minha mente se abriu hoje ao entender que estou muito aquém do que deveria ser. Quem é de Deus não é egoísta, por isso não olha só para seu umbigo. Ele se preocupa com o próximo, e tem prazer em falar de Jesus para as pessoas. Não acredito que o Arnaldo não tenha sentido a mesma coisa.
— Ouvi sim, meu. Ouvi...
Essa resposta me pareceu bem pouco real. Mas deixo Arnaldo em paz e eu mesmo mando mensagens para o pessoal da tribo. Alguns, como imaginei, ignoram. Mas duas aceitam meu convite.
*
Somos três nesta bela tarde ensolarada na rua.
E Arnaldo na casa dele. Que triste.
Chamamos todos os jovens que estavam na rua (vários, já que este horário é propício nas áreas mais pobres de Grinter). Pegamos contatos para ligar no sábado de manhã. Mas voltamos antes de chegarmos na quebrada, pois penso ser mais seguro para as meninas.
Na volta uma delas faz a oração no caderno onde anotamos os contatos. Entendo agora porque ela usou caneta e caderno em vez de anotar no celular, como seria o correto. Também ora pelos afastados, e agora surge na minha mente uma lembrança da primeira vez que vim aqui na igreja do Mazini: domingo de manhã, uma jovem que voltava da reunião sozinha e chorando com a cara no celular. Com certeza é afastada, pois tinha um arquinho da FJ, igual ao que as meninas usavam na igreja do centro, e nunca mais vi aquela moça.
Na volta para casa ainda convido mais dois que vejo no caminho. É como se um fogo em mim pedisse para fazer isso, sabendo que Jesus é quem todos procuram mesmo sem saber. Essa é minha missão!
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Quantas voltas
Ficción GeneralO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...