26 - Roviner

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De hoje não passa! O filho da Zineide vai pagar tudo o que está me devendo.

— Aí, moleque, sobe aqui!

O moleque com o pano todo sujo e rasgado corre para o outro lado. Correr é só o que ele faz de bom, é o que lhe mantém. Antes de chamar de novo, passo um sinal para meus parceiros pegarem-no adiante. Ele tenta se soltar, mas meus irmãos trazem-no diante do meu castelo.

— Eu juro que vou te pagar tudo que devo, Espaguete. Só me deixa resolver uma fita ali, juro mesmo.

Essa molecada implora por minha misericórdia. Sou um herói para ela. Protejo o que têm e tenho tudo o que mais querem. A seu preço.

— Moleque, não existe homem sem palavra. Ou tu tem palavra ou não é homem. Tu é moleque. Se amanhã tu não me passar as oito pila, vou ter que arrumar de outro jeito.

— Não, Espaguete. Juro.

O moleque é mais velho que eu, mas ainda presta. Posso usá-lo que os polícia não vão embaçar. E ele é um avião ligeiro para fazer os corres. Um sinal meu e os malucos soltam.

— É a última chance, pegou? E é bom tu ver que não tô de zoeira.

— Ah, graças a Deus.

— Se amanhã tu não voltar com o dinheiro, eu mesmo resolvo essa merda.

— Sim, senhor, amanhã essa hora vou trazer tudo. Só que... preciso de mais um hoje. Só unzinho, cara, tô precisando agora, já. Vê um aí.

Tiro do bolso um pino aberto, só com o cheiro, praticamente vazio. Jogo no chão e o moleque sai vazado com aquela porcaria. Dá tempo de pensar se o trato vale a pena.

— Espaguete, tu sabe que ele não vai...

— Tô ligado. Deixa que dou um jeito naquele moleque do cacete.

*

Está difícil pegar no sono. Tem a choradeira da Zineide, a velha do moleque que morava aqui perto e hoje está se mudando para o cemitério. Tem a barulheira dos guardinhas de rua; irritantes. Tem o controle do tráfico, que meu irmão e eu gerenciamos na região. Tem outros moleques tentando tomar nossa loja. Tem ainda outros tentando roubar minhas minas. E tem essas ideias malucas de que posso morrer a qualquer hora e ir para o inferno. Só o que me tranquiliza são os meus soldados, principalmente os oito mais equipados vigiando aqui em volta do meu barraco.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora