33 - Kleverson

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Pelo jeito o Arnaldo esqueceu mesmo de mim. Tudo bem, tenho novos amigos para não ficar sozinho.

Há mais ou menos um mês estou indo na igreja dos pais do Arnaldo. Nas primeiras semanas ninguém vinha falar comigo. Eu via algumas rodinhas no hall depois das reuniões que fui, terça-feira e domingo, mas passava direto e ia embora na solidão. Agora que me chamam, me sinto relevante, visível.

Alguns conhecem a minha história, a do tumor que estava no meu cérebro e sumiu depois das orações. É um milagre que poucos haviam experimentado, o que deixa todos maravilhados e os trouxeram para perto de mim.

Olhando bem, vejo gente familiar. Antes de ir embora, junto coragem para falar com uma morena baixinha.

— Oi, com licença. Você é parente do Arnaldo?

— Sou sim. É, já te vi antes... Você estudava com ele, né? Kléver?

— Exato!

— Sou a Karen. Karen, beleza?

Não entendo por que ela enfatiza o nome. Apertamos as mãos e vamos embora, cada um no seu caminho.

É estranho ver outra moça que estava na reunião indo embora tão triste. Ultrapasso-a sem mesmo aumentar a velocidade. Nem na roda ela estava. Olho para trás para ver um par de olhos puxados vermelhos presos à tela de um celular, mas não junto coragem para perguntar o que está acontecendo. Sigo meu caminho com um remorso que dura até chegar em casa e sentir o cheiro da carne assada.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora