72 - Ariana

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— Obreira, você viu o Arnaldo? Ele estava estranho...

Outra vez a Heloísa vem falar comigo. Desta vez, porém, não é sobre o Espírito Santo. É sobre aquele menino.

— E você, Helô, como tá? — tento mudar o assunto. — Tá buscando o Espírito Santo?

— Hã? Ah, sim, tô sim. Vou receber, em nome de Jesus. Mas, eu tava pensando agora em outra coisa...

Ela começou tão bem, estávamos buscando juntas até semana passada, quando ela parou de atender minhas ligações de meia-noite para orarmos juntas. Tudo bem, pois ela tem sua família e seus estudos para fazer, pensei que ela havia começado a dormir mais cedo.

— Helô. Sabe, o Espírito Santo desce quando a pessoa dá tudo de si. Isso inclui seus pensamentos. Não que você não vai mais estudar ou fazer suas coisas, mas, enquanto você não recebê-lo, é melhor não buscar outra coisa. Seja qual for. Priorize o...

— Mas, obreira, eu tô buscando ele em primeiro lugar. Só que o Arnaldo...

— Vou te dar um conselho como amiga, tá? Pro seu bem, Helô, acho melhor você não falar com o Arnaldo. Sei que ele é uma alma, mas os obreiros homens vão ajudá-lo bem melhor.

Ela não responde. Ficamos por um momento ouvindo apenas o som dos carros passando enquanto vamos nos aproximando da igreja. Ouço também a algazarra dos jovens chegando para o Conexão. Heloísa tira os olhos de mim para resmungar:

— Ah, você nunca gostou de ninguém, nunca nem namorou. Que autoridade tem pra falar de vida sentimental comigo? Só pensa em trabalho, trabalho...

O tempo pára. Até os jovens bagunceiros congelam diante da minha reação. Fico surda, apenas rodopiando dentro de mim. Ouvi certo? Minha própria amiga, a quem dou o melhor de mim para ajudar, também pensa mal de mim? Deus meu, será que o Senhor é o único que me ama sem olhar para condição, física ou material?

Agora eu fico quieta até entrarmos na igreja. Preciso de um tempo para reerguer minha estrutura para começar a FJ.

— Obreira, me desculpa. É que, ele foi muito importante pra mim, o Arnaldo. Mas, de verdade, eu quero o Espírito Santo. Acima dele.

— Tudo bem, Helô. Conta comigo, passe o que você tiver passando, pode contar comigo.

— Tá ligado, obreira. Confio em você!

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora