— Então você está de candidata a obreira?
Valdir me leva de carro à sede de sua empresa. Um prédio todo de vidro com dois andares, na George Martin, a avenida principal da cidade, com uma fachada pequena onde se lê V-Black Comunicação Visual numa letra estilosa. É um lugar bonito, mas o carro... Não gosto de Camaro, ainda mais amarelo, isso me lembra aqueles filmes bobos de robôs gigantes, bem nada a ver.
— Sim.
É só o que consigo falar. Sei que é apenas uma entrevista, mas sempre que vou ser analisada começo a suar, sentir um calor de nervosismo. Pelo menos agora não vai ser por uma racista.
Ah, que raiva que desperta quando penso naquela pessoa, mas me controlo ao lembrar que ela é uma pobre coitada, de mente fechada; só gente assim que pensa que humanos são divididos em raças como cachorros, e pior, que uma suposta raça é superior a outra.
— Você está bem?
— Hã? Ah, sim.
Valdir sorri enquanto entra no estacionamento da V-Black. Subimos de elevador até o último andar, onde fica o escritório particular dele, o presidente.
— Valdir, realmente você tem um dom! Faz quanto tempo que você começou essa empresa? Quando eu comecei na igreja, em março, né?
— Não, não. Desde o ano passado! Comecei fazendo cartões de visita para uns amigos, depois para os amigos deles, e Deus foi honrando, foi crescendo a clientela e os serviços e deu bom! Em março estava negociando este edifício, e precisava de alguém de visão pra me ajudar. — Valdir lança um olharzinho para mim, e entendo que ele queria que eu estivesse aqui com ele.
Talvez fosse a melhor escolha. Talvez esse fosse o projeto de Deus para minha vida.
Talvez esta seja a resposta do meu sacrifício!
Talvez seja até mais do que pedi. Valdir não é de se jogar fora. Um cara charmoso, bem-arrumado como sempre que o vejo, de voz suave. Responsável, lutador, vencedor, determinado, pois está alcançando seus objetivos.
Mas não! Preciso cuidar da minha vida antes de querer um relacionamento com alguém. Antes tenho que ter minha situação financeira definida. Depois penso em relacionamento.
*
Minha mãe mudou muito. Quando chego em casa ela pergunta como foi. E é com muita alegria que falo do meu novo emprego! E ela também se alegra comigo em vez de me jogar para baixo. Também, com o meu novo salário vou poder finalmente tirar minha habilitação e comprar um carro!
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Quantas voltas
Ficción GeneralO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...