32 - Arnaldo

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Há mais de um mês saímos para evangelizar juntos, e toda vez que uma moça bonita nos atende a Heloísa tem uma crise de ciúme. Durante essas crises eu vejo outra vez aquelas luzes na minha mente. A verde diz para ignorar, pois apesar de ela agir de maneira repreensível, ela fica me apertando, o que me dá uma sensação boa, se é que você me entende. A luz vermelha, entretanto, mostra um péssimo sinal durante o namoro, que será um grande problema se levarmos adiante este relacionamento.

Mesmo eu não tendo pego envelope algum, este mês está sendo de sacrifício. Hoje farei mais um.

*

— Oi, amor. Você disse que queria falar algo importante comigo depois do Conexão.

As luzes piscam intermitentemente. Há uma verdadeira batalha dentro de mim. Aqueles olhinhos puxados da Heloísa, o jeito meigo mas animado dela, tão diferente de quando a conheci lá no mundo, me fazem pensar em desistir do sacrifício.

Mas mantenho-me firme. Minha salvação acima de tudo.

— Então, Heloísa, eu estive pensando e acho que isso é a melhor coisa pra nós dois. Vamos seguir nossos caminhos, cada um na sua, tudo bem?

— Como assim, você tá terminando comigo, Arnaldo?

É duro ver o sorriso dela se desfazer tão depressa.

— Não fique chateada. Na hora certa Deus vai te honrar.

Ela dá um passo para trás sem tirar os olhos de mim. Estendo a mão mas ela se recusa a apertá-la.

— Você é uma menina muito especial, apenas persevere nessa fé.

Heloísa baixa os olhos mas não sai do lugar. Despeço-me e vou para casa a passos rápidos, sem olhar para trás. Até para ela não ver a lágrima em meu rosto. Para ninguém ver.

*

A luta continua dentro de mim. A todo instante me pego pensando na Heloísa. Será que ela está bem? Será que ela se abalou? Ela não está na reunião, e nem sua mãe. A preocupação se junta ao sono que tenho todo domingo de manhã e não consigo prestar atenção na reunião. A guerra não para.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora