— Nunca! Onde já se viu, dublado melhor que original?
— Não é que seja melhor, cara, é que minha mãe não entende nadica de nada de inglês, e ela gosta de ver filme comigo, sabe como é...
Tenho poucos amigos, pois a maioria dos colegas da escola não gostam de mim. Parece que tenho um repelente na testa, ou pode ser meu estilo de barba e cabelo, por ser o único que não deixa tudo aparado. Ou talvez eles não achem normal quem vive só com a mãe. Eu também não acho, mas não faço tanto caso. Acostumei a ver meu pai só no final de semana. E olhe lá.
Mas Arnaldo é uma exceção. Desde o primário somos melhores amigos. Bem, nunca falei nessas palavras na cara dele, mas nem precisa. A gente sabe. E ele conhece minha situação.
— Bom, eu já não tenho esse problema.
Esta leva algum tempo para Arnaldo entender. Não tenho problema de meus pais não entenderem nada de inglês. Porque eles nunca estão juntos. Só a mãe, e ela não é de assistir muito.
— Mas então, Arnaldo... Agora falando sério — fico um pouco sem jeito, mas se posso pedir ajuda a alguém, seja para alguém que conheço e que sei que se importa comigo. — Você não tem alguma ideia do que posso fazer pra, sei lá, trazer meu pai de volta?
Paramos de andar. Algumas quadras abaixo vejo a placa da Praça da Juventude, um ponto de encontro bastante conhecido por aqui, com quadras e pista de skate. Estava bem movimentada nesse fim de semana, e é assim toda semana. Hoje, segunda-feira, é mais sossegada.
Um pouco mais vejo parte da fachada da escolinha de inglês, de onde estamos vindo. Arnaldo vai para casa e eu o acompanho para depois pegar um ônibus no ponto mais perto da casa dele.
— Pois é.
— Sabe, cara, não aguento mais essa vida, pai e mãe, só briga...
Mantenho postura firme, mas é difícil disfarçar. Como homem, tenho que ser forte diante de todos, capaz de resolver qualquer situação. Mas não é essa imagem que passo ao chegar ao ponto de pedir ajuda para alguém. É questão de pensar: a família do Arnaldo é unida. Ele poderia me passar seus segredos para eu alcançar uma vida assim.
— A vida é complicada. Cada um passa por uma situação, se eu te contar o que eu passo... Dá até vergonha! Mas é assim mesmo.
Arnaldo dá uns tapinhas em minhas costas e mantém um olhar distante.
— Hum, entendo.
— Ah, então fica assim — ele diz, sem tomar distância de mim, como se quisesse continuar a conversa.
— Falou.
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Quantas voltas
Ficción GeneralO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...