A porta do escritório dela está entreaberta, então nem bato. Ariana está em sua cadeira fazendo seu último trabalho do dia, pois é quase hora de irmos embora.
— Oi, Ary! Então, hoje, não se esquece, eu te espero pra irmos almoçar.
Ela está tão concentrada que olha para mim num relance e acena noutro. Espero que ela não esteja pensando em desistir. Tá amarrado!
— Só uma coisa: eu vou ali no banco rapidinho. Você cuida aí pra mim? Sei que você dá conta — digo entre um sorriso que ela corresponde sem falar.
Não tem como dar errado. Só por ela ter aceitado sair comigo significa que ela gosta de mim. Não preciso ficar cheio de medo. Estou até bem tranquilo, se comparado com as outras vezes em que tentei arriscar o sim de uma moça. Essa tranquilidade deve fazer uma enorme diferença. Passa autoconfiança, uma das características mais importantes que uma pessoa precisa ter se quiser um relacionamento ou qualquer outra conquista importante.
O banco fica do outro lado da rua. Ando devagar, observando o movimento. Céu limpo e azul, pessoas sorrindo, pessoas sérias, o farfalhar e a brisa que carrega o perfume das flores que comprarei para a Ariana, na floricultura da esquina, na volta... Foram poucas as vezes em que reparei na beleza que existe ainda nesse mundo. Sempre foquei em problemas, tanto os meus quanto os dos membros da igreja, a quem ajudo em oração e faço propósitos. Em olhar para a natureza, que vontade de fazer a Love Walk me dá!
Chego no banco e, para minha surpresa, a fila está pequena. Apenas duas senhoras, um casal jovem e dois caras bem observadores. Fico esperto com eles, pois sei da onda de assaltos que começou a aparecer na cidade nesse semestre. Quando os caras vão embora de moto, aí sim vou ao caixa eletrônico para sacar o valor.
Saio tranquilo, e percebo os dois rapazes voltando de moto. Param na minha frente e então sinto os disparos.
Primeiro o disparo das batidas do meu coração.
— Passa aí, playboy! Passa tudo, aí, já, vamos! Rápido, rápido!
Fico meio atrapalhado e revoltado e demoro para atender o que eles querem. Então ouço outro disparo.
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Quantas voltas
Ficción GeneralO preconceito começa dentro de casa, quando nem a mãe acredita que Ariana possa ser grande. Após se mudar para uma cidade maior em busca de novas oportunidades, conhece a fé no mesmo grupo de Arnaldo, o jovem mais bonito de sua igreja, mas também o...