13 - Heloísa

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— E aí, gostou do evento? — ouço na voz de Arnaldo.

— Sim, muito! — ouço uma voz de uma mulher.

Ai, sinto umas três batidas descompassadas no peito. Disfarço. Um pouco. Nem tanto. Olho mesmo, para ver com quem Arnaldo está falando.

Acabamos de chegar no ônibus, vamos embora, e quando olho pela janela, vejo Arnaldo e uma daquelas suas amigas no maior papo. Ainda que ela pareça não estar muito a fim de conversar, ele insiste mais algumas frases antes de entrar no ônibus e deixá-la. Ela deve ser daqui de Sérkera.

Excelente. Deixo minha bolsa na poltrona ao meu lado, nas primeiras. Arnaldo veio com um dos amigos do lado, mas agora, quando ele entra no ônibus para a volta, chamo para ficar aqui. Ele dá uma enrolada e vai pro fundão.

Tudo bem. Não tenho pressa.

*

De volta em Grinter, chegamos ao Centro de Ajuda principal. Nós que somos do bairro pegamos um circular. O sol já se pôs, e ficamos cinco jovens esperando no ponto.

— Arnaldo?

— Fala, Heloísa.

— Gostei muito do evento. Quando vai ter de novo?

— Só ano que vem!

— Que pena. Então não vamos mais viajar assim, nós? E o pessoal?

— Depende. Talvez não pra Sérkera, mas direto vamos nos Centros de Ajuda daqui, tem concentrações, também dá um movimento legal.

— Que bom.

— E tem os Conexões, você sabe, é a principal.

Fico alguns instantes apenas olhando para ele, com dentes à mostra. Ele não parece incomodado, pois não desvia o olhar. Eu não deveria, ele vai ver minhas veias saltando. Rapidamente pisco e olho para baixo.

— Ah, sim. Com certeza. — peguei essa expressão com esses jovens. Eles têm sua própria gíria, coisas tipo tá ligado, vai arrebentar, ganhar almas, entre outras que nunca ouvira antes.

Quando o ônibus passa, Arnaldo não entra.

Mas, pela janela, vejo que ele continua olhando para mim. E antes de perdê-lo de vista, tenho a nítida impressão de que ele sorri.

Quantas voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora