1. A Mudança

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O dia estava lindo como sempre. O sol brilhava como nunca e as ondas estavam de uma cor cristalina -talvez uma tentativa de Miami se despedir de mim-, o cheiro do mar entrava através da janela aberta. As malas já estavam prontas e perto da escada, esperando que meu tio Joe as carregassem para o porta-malas da mini-van.

Peguei o resto dos meus pertences e coloquei dentro da mochila desbotada. Dois de meus livros favoritos, meus óculos de leitura, meu ipod com os fones de ouvido e minha câmera fotográfica. Olhei mais uma vez o mar através da janela e senti o sol na minha pele, o som familiar das ondas faria falta na hora de dormir.

-Estamos prontos. -Minha tia Tessa apareceu na porta do quarto.

Desde os meus doze anos comecei a morar com Tessa e o marido dela, Joe. Ela é a irmã mais nova do meu pai e tem dois filhos, Kendra e Will, os dois estão em universidades diferentes e sempre que podem nos visitam. Tessa é artista plástica e o tio Joe é fotógrafo, esse é o motivo para eles sempre mudarem de casa em casa pelo país -e as vezes pelo mundo.

Ao sair do quarto percebi que as malas já haviam sido levadas e os móveis estão cobertos por um plástico azul. Ela me esperava na porta da sala com as chaves da casa na mão, usando seus óculos de sol.

-Pronta para ir? -Ela pergunta com um sorriso gentil no rosto. Tia Tessa não parecia nem um pouco com meu pai -a não ser pelos olhos escuros e marcantes. Seus cabelos escuros e curtos a deixava mais nova, escondendo seus trinta e seis anos.

-Mais ou menos.

Ao passar pela porta de entrada e ver Tessa trancando-a, a minha ficha finalmente caiu. De todas as casas que moramos ao decorrer dos anos, essa foi a que eu mais me apeguei e ao entrar no carro percebi que as lágrimas se formaram em meus olhos ao vê-la desaparecer à medida que o carro avançava.

Ao chegar no aeroporto de Miami tivemos que esperar uma hora para embarcar no voo que partia para Port Angeles. De acordo com os cálculos de Tessa, demoraria cerca de duas a três horas para chegarmos lá. E quando finalmente embarcamos no avião coloquei meus fones de ouvido e tentei não pensar na vida que eu deixaria para trás, nas minhas duas melhores amigas e na minha antiga escola -embora eu não gostasse muito dela.

Na península Olympic, do noroeste de Washington, há uma cidadezinha chamada Forks, quase constantemente debaixo de uma cobertura de nuvens. Chove mais nessa cidade insignificante do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos. É nesse lugar que úmido e melancólico que Tessa e Joe pretendem passar alguns meses, na tentativa de "criar algo renovador", como ela mesma disse.

Depois que pousamos em Port Angeles, tivemos que alugar um carro e dirigir por uma hora até chegar em Forks. Durante o caminho tive que escutar o discurso animado de minha tia falando sobre como seria bom para todos nós essa mudança.

-Você vai gostar bastante de Forks. -Ela me disse com uma empolgação estranha- Tem várias árvores, as pessoas são gentis e o clima é ótimo.

-Tes... -me corrigi. Combinamos que eu não a chamaria assim, não na frente dela.- Tia Tess, eu pesquisei sobre esse lugar na internet.

-Você viu como é uma cidade calma?

-Se com "calma", você quis dizer pacata que mais parece um buraco verde, eu concordo plenamente.

-Não fique desanimada querida, -disse tio Joe- logo você vai se acostumar.

-Me acostumar?! -Perguntei surpresa- Pensei que iriamos ficar por alguns meses.

Do banco de trás do carro vi Tessa olhar para Joe como se ele tivesse falado demais. Em seguida ela se virou para mim e sorriu.

-Se tudo correr bem, vamos poder nos mudar, mas primeiro precisamos de juntar mais dinheiro.

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