11 Péssima visita

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As férias começaram, e como em todas as outras, nós aproveitamos para dar uma geral no Afonso e no Hobbit.

A Mandy foi me visitar para contar que iria passar o fim de ano na casa de praia, e me convidar para ir junto.

Tentei, com o melhor jeitinho dizer que não. Apesar de eu amar praia. Fim de ano não era nem de perto minha data favorita, e eu não queria estragar a praia de ninguém.

Na minha casa, tudo seguia como sempre, minha tia reclamando da minha bagunça e da minha clausura. Todo dia era a mesma coisa de "Nossa, sai um pouco de casa" "vai sair com suas amigas" "Larga desse computador um pouco" "você só fica escutando essas músicas de doido" e por aí vai. Eu estava entediada, e resolvi dar uma volta com Lestat.

Pensei em chamar alguém, mas o Lucas não estava em casa, e o Du estava trabalhando, então, fui sozinha mesmo.

Fazia muito tempo que eu não ia ao Kartódromo. Quando eu era pequena era meu lugar favorito. Passava muitos dias lá, vendo os caras treinando, em alguns fins de semana que meu pai estava de folga, acompanhávamos algumas corridas. Acho que eu tinha uns quatro anos, e já estava lá nas pistas. Eu nem sabia se ainda estava aberto, mas como eu não tinha nada pra fazer, resolvi dar uma volta por lá, relembrar.

Peguei a estradinha para o horto florestal, agora cercada de empresas, e razoavelmente mais movimentada do que eu me lembrava. Passei pela entrada do horto, e segui, o portão do kartódromo estava aberto, mas não tinha ninguém ali. Estacionei Lestat atrás do bar, onde meu pai costumava parar, e desci em direção a pista.

Os boxes estavam fechados, mas a pista até que estava bem cuidada. Imediatamente comecei a me lembrar do barulho ali, o cheiro gostoso dos motores funcionando, a pouca distancia, virando pela pista estreita. Me sentei na barreira de pneus e fiquei me lembrando das vezes em que estive ali, e meu pai sempre conseguia uma visitinhas nos boxes para mim. Aliás, os pilotos adoravam ver minha animação, um toco de gente de cabelo quase branco de tão loiro, correndo entre os karts. Na minha cabeça a vida era tão divertida, tão normal... Mas minha infância podia ser chamada de muitas coisas, menos de normal.

Fiquei ali por um tempo, e voltei ao Lestat, aumentei o som do Iron e comecei a dirigir de volta.

Cheguei em casa, estacionei o Lestat em frente a calçada reparando no Celta parado na frente da minha garagem. Estranhei, mas devia ser alguma visita na casa do Lucas.

Entrei em casa, joguei a chave no raque da sala e chamei meu pai.

Ninguém respondeu, então fui até a cozinha pegar uma água. E dei de cara com a figura loira em pé na cozinha, de costas para mim. Uns dez centímetros mais alta que eu, de salto alto, com roupas elegantes, e uma bolsa chique.

Meu pai ficou branco quando me viu parada na porta. A mulher se virou para mim, e tirou os óculos escuros me encarando com os olhos azuis, e um sorriso bobo.

- Elise – Ela quase sussurrou.

Meus olhos se encheram de lágrimas, e meu couro cabeludo formigou. – Pai... O que ela tá fazendo aqui? –  Quase não tinha voz, meu corpo estremeceu de raiva. Não estava acreditando que ela teve coragem de aparecer...

Ele engoliu em seco, e não respondeu.

- Elise, eu...

- Por que você tá aqui? – A encarei quase rosnando.

- Eu vim ver você, filha. – Ela inclinou a cabeça como quem fala com uma criança.

- Já viu, agora vaza! – gritei.

- Elise, eu quero falar com você. – Ela exibia uma cara de pena, e eu sentia ainda mais raiva.

- Que parte do "eu não quero nunca mais ver a sua cara", você não entendeu? – rosnei.

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora