45 Enfermeiro Particular

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Léo ficou comigo o tempo todo, e me ajudou a chegar ao carro, minha garganta estava dolorida, mas o que me matava, era meu braço. Tanto por ele estar doendo, quanto por estar imobilizado, isso me dava muita raiva, e me privava de fazer algumas coisas. Já que meu braço esquerdo era tão inútil, quanto um garfo para tomar sopa.

Minha voz estava rouca, e extremamente baixa, ver as pessoas se esforçando para me ouvirem me dava nos nervos também.

Léo ficou me enchendo a paciência para que eu fosse para a casa dele, mas eu queria muito ver o Lestat antes. Eu não estava a fim de encarar meu pai, também soube que ele tinha sido chamado na polícia, na verdade, não queria saber de nada, mas  precisava ver se Lestat tinha conserto.

Minha tia me esperava na calçada, quando Léo parou a Mercedes ali. Respirei fundo, e caminhei até ela, lhe dando um abraço. Eu odiava ver seus olhos preocupados comigo. Porque eu não era obrigação dela, eu não queria que ela se preocupasse daquele jeito.

Me virei para entrar na garagem da esquerda. Minha tia passou  minha frente para destrancar o portão, me dizendo que ninguém havia voltado lá depois de segunda.

Léo passou o braço por minha cintura, me dando força, e assim que o portão se abriu, eu o vi. Destruído, parecia até que havia caído uma carreta em cima dele. O para-brisa retorcido, estava em cima do que havia restado do capô, as laterais estavam afundadas... Me aproximei da porta que eu tentei salvar. Meus olhos se encheram de lágrimas, e minha garganta doeu quando olhei para a mancha de sangue no chão. A mancha do meu sangue. Me abaixei ao lado dele, encostei a cabeça na porta afundada chorando, porque aquilo não tinha conserto... Ele estava destruído demais.  Solucei passando a mão que não estava imobilizada pela porta dele. Léo ficou me olhando sem dizer nada. Meu sofrimento era o de quem perdia alguém da família. Não era exatamente o que eu senti quando perdi o Du. Era uma perda diferente, uma perda que eu poderia ter evitado, e não consegui.

- Elise, por que você quis ver isso? - Léo falou baixinho atrás de mim com a voz embargada.

Fechei os olhos, e me agarrei aos restos do meu querido Lestat. O que eu podia fazer? Eu ainda tinha alguma esperança de poder consertá-lo, por isso eu quis vê-lo. Mas encontrar ele naquele estado, terminou de me destruir.

Léo se abaixou na minha frente, e segurou meu rosto.

- Não chora, Elise... - Me puxou para ele. - Nós podemos consertá-lo se você quiser.

Ele estava falando da boca para fora, até um tapado como ele, sabia que não tinha como consertar aquilo. Meu pai sabia muito bem o que estava fazendo quando começou a destruí-lo. Não sobrou uma peça sequer inteira. Nada da lataria dele era aproveitável naquele estado. Do capô a tampa traseira, nada se salvava.

Ele me puxou para ele, me abraçando, e passei meu braço inteiro por suas costas para ele me levantar.

- Vamos, Elise, não adianta você ficar aqui. Lá em casa você vai conseguir descansar melhor. - disse passando os polegares pelo meu rosto, limpando minhas lágrimas.

Voltamos para a calçada, e minha tia me abraçou novamente.

- Tia, não deixa ninguém mexer nele, tá? - implorei resmungando.

Ela me lançou um olhar de pena, e assentiu.

- Vai com o Leonardo, Elise. Ninguém vai mexer no seu carro... - Ela me deu um beijo no rosto, e voltei para o carro do Léo. Ele pegou minha mochila que minha tia arrumou para mim, e partimos.

Chorei a viagem toda, me lembrando do meu pai destruindo meu Lestat, e da imagem de como ele ficou irreconhecível. Meu querido filhote que estava comigo há quase três anos... E agora não era mais nada, além de uma pilha de ferro e vidro retorcido.

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora