Quando Léo terminou a prova, o tempo estava bem mais apertado para o Du, mas se fizesse no mesmo tempo, ele ainda podia vencer.
Todos os outros foram, e fiquei na expectativa para ver o tempo, seria tão bom para ele ganhar outra vez, meu irmão precisava de mais confiança, e aquela prova já era dele.
Ele largou, disparei o cronômetro, fiquei olhando o tempo, sem olhar para a pista. De repente, ouvi um estrondo, e quando olhei para a pista, não vi mais o Afonso. Fiquei confusa, olhei para as pessoas ao meu redor, que pareciam tão perdidas quanto eu. O que tinha acontecido enquanto eu olhava os décimos correndo no cronômetro? Vi meu pai levar as mãos a cabeça, e Fábio olhar horrorizado para os lados. Todos os mecânicos, e pessoas de outras equipes corriam em direção ao barro. Meu coração disparou, e eu não conseguia pensar em nada. Saí correndo atrás do meu pai, afundando até a canela na descida, vi o Afonso tombado.... Desacelerei o passo. Decepcionada. Como o Du conseguiu fazer aquilo? Estava no papo, era muito tapado mesmo...
Caminhei devagar até lá, e Léo veio atrás de mim. Quando me aproximei, vi meu pai gritando, gritando e eu não estava entendendo. Nossa, ele estava bravo mesmo com o Du...
- Elise. – Léo me puxou para ele.
- Nossa, fala para o meu pai não gritar com o Du, ele fez cagada, mas é normal dele. – falei quase desesperada.
- Elise, fica aqui. – Ele estava tão nervoso, eu não entendi nada.
- Não, Léo, deixa eu ir lá. Meu pai tá muito puto. – fiquei com raiva, meu pai era um insensível. Coitado do Du. Me soltei do Léo, e comecei a descer em direção ao Afonso
Estava quase chegando lá, quando os seguranças da corrida começaram a afastar todo mundo, e uma ambulância passou por mim, pela grama para não atolar.
Na hora pensei, "Caramba, foi sério mesmo, acho que ele quebrou alguma coisa."
Me desvencilhei dos guardas, e fui para perto do meu pai, que era afastado de lá também.
Com um nó preso a garganta consegui ver porque meu pai gritava, o Afonso estava destruído, bateu em uma árvore. Minha respiração ofegou, e cheguei mais perto.
Escorreguei na lama, caí sentada no meio do barro com a cena. Léo correu até mim, me abraçando, escondendo minha cabeça em seu peito. Ele estava chorando abraçado mim.
- Léo... – disse quase sem voz.
- Vamos sair daqui, Elise. Vem. – Ele me puxava, mas eu não tinha forças. Fiquei paralisada.
Minha cabeça apagou. Simplesmente eu nem estava mais ali, ele passou o braço pela minha cintura e caminhou comigo de volta até a tenda.
Me colocou sentada na grama, e pegou um copo de água para mim. Estava branca, gelada, com barro no corpo todo, e com o olhar perdido. Eu não conseguia raciocinar direito. A cena não era aquilo... Meu pai estava gritando com ele por ele quebrar o Afonso...
- Elise, escuta... Olha para mim. – Léo tentava falar, mas estava soluçando. Pisquei para ele tentando entender porque ele estava chorando. – Vamos lá para o hotel, tá...
- Mas eu preciso ir para o hospital com o Du, meu pai tá muito bravo com ele. – resmunguei.
Ele respirou fundo, segurou meu rosto, e me deu um beijo na testa. – Vem, vamos lá toma um banho para a gente ir então. – sussurrou com a testa na minha.
Ele passou o braço por mim, e caminhei com ele, ainda feito uma boneca inanimada, de tão aérea.
Ele me levou até o banheiro e me deu minha mochila. – Toma um banho rapidinho para a gente ir, tá?
Assenti, tirei minha roupa coberta de lama, e entrei no chuveiro. – Elise, vou tomar banho no quarto do lado, já volto. – Ele gritou atrás da porta.
Eu nem respondi, só continuei tomando banho. Me troquei, e fui para o quarto, me sentei na cama, e ele não estava lá ainda.
E aquela cena não saía da minha cabeça, e eu tentava ouvir, e entender os gritos do meu pai.
Carlão entrou no quarto, e parou quando me viu sentada na cama, sem fazer nada, sem me mexer.
- Menina... – Ele falou calmamente se aproximando de mim. – Eu trouxe isso para você. – Me entregou um copo. Olhei pra ele, depois para o copo e cerrei os olhos.
- Por que você tá aqui? Cadê o Léo? – Não entendi nada.
- O Leonardo está tomando banho, Elise, ele já vem... Bebe um pouquinho disso. – Ele me incentivou
Peguei o copo, bebi um golinho, e reconheci o gosto do remédio no meio do suco. Calmante, um gosto que eu não me esquecia. Tomei por anos.
- Eu não quero calmante, Carlão... Por que tá me dando isso? – perguntei confusa.
Ele fechou os olhos, e respirou fundo, Léo entrou pelo quarto andando apressado.
- Léo, vamos lá ver como o Du tá? – pedi – Nossa, meu pai também né, o garoto se machucou, e ele dando branca...
Os dois se olharam, Léo se agachou na minha frente, e segurou minhas mãos.
- Elise, o Du tá... – Ele fechou os olhos, e estava chorando outra vez.
Lágrimas escorreram dos meus olhos, enquanto eu olhava para ele, me lembrando finalmente dos gritos do meu pai. Ele não estava bravo... Estava desesperado, chorando e gritando. "Não..."
Fechei os olhos... A árvore estava praticamente dentro do Afonso. Ele estava no meio das barras de proteção... Vi os olhos dele abertos dentro do capacete... Morto. Com o pescoço quebrado. Olhando para mim...
- Morto. – sussurrei chorando.
Léo me puxou para o chão, me apertando junto ao seu peito. E chorei. Chorei agarrada a ele, tentando me lembrar de como respirar. Eu não sentia nenhuma parte do meu corpo. Eu simplesmente desmontei no chão, e a única coisa que unia meus pedaços, eram os braços do Léo.
Não podia ser verdade... Ele não podia ter morrido. Ele não podia me deixar. Não podia...
***
Passei o dia jogada no chão, parecendo uma boneca quebrada.
Léo chamou um dos médicos da prova, e para ser sincera, não me lembro de tê-lo visto, mas ouvi os murmúrios das conversas com Léo.
- Ela está em choque, Leonardo... Posso aplicar um calmante nela, para que ela durma, talvez ela acorde um pouco melhor. – O médico murmurava.
- Não parece certo... – A voz do Léo continuava embargada.
- Seu amigo disse que ela assistiu a tudo... Deixe que ela durma, não adianta ela ficar assim... Amanhã você a leva para a casa.
Ele assentiu, me recolheu do chão, e me colocou na cama. – Elise, você precisa descansar, tá?
Olhei para ele, e só consegui chorar. Omédico aplicou o calmante em mim. E eu praticamente morri. Fui para o mundo do vazio que minha cabeça estava. Foi como cair, cair num abismo profundo e sem fim, e ter os olhos dele sempre me vendo. Seu rosto tão lindo, sangrando... E seus olhos... Eu nunca ia me esquecer. Agora eu tinha mais uma coisa para nunca esquecer...
Meu irmão morreu, como meu pai sempre temeu que eu morresse.
Me deixou, no meio de uma corrida...
Por que, ele? Em um momento tão bom... Ele estava feliz. Ele não podia ter morrido desse jeito...
Ele não podia me deixar, agora que eu ia ser feliz... Como eu podia ser feliz agora? Sem ele, nada de mim fazia sentido. Eu só estava viva por causa dele. E agora eu não o tinha mais? O que eu ia fazer sem ele na minha vida...
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Elise (Repostando)
Teen FictionRespondona, grossa, encrenqueira que não leva desaforo para casa, e com ótimo gosto musical. Elise é a faz tudo de uma equipe de Rally. Viajando com seu pai, seu irmão e os caras da equipe desde os 14 anos, ela foi obrigada á se encaixar nesse meio...