Depois dessa droga de dia só restava mesmo dormir. Às vezes não dava para acreditar na idiotice do Du, caramba, eu tinha avisado sobre aquela maldita curva fechada, mas o idiota me ouviu? É claro que não, porque eu sou a garota, e pilotar é para homens! Pois então que os homens se ferrem sozinhos! E o Tales ia me pagar caro pela brincadeirinha idiota. E vou falar para meu pai que não vou mais a porra de etapa nenhuma no mês que vem. Porque nem para enfeite daquela equipe eu servia mesmo.
A cama do hotel era pior do que o banco traseiro do meu carro, mas já estava pago, então, joguei meus tênis no meio do quarto, deitei na cama agarrando os travesseiros e cobri até a cabeça. Acho que embalada pela raiva eu acabei dormindo mais rápido que o normal.
De manhã, no domingo, descobri a cabeça com a cara toda amassada de sono, e vi a claridade pelas cortinas da janela, me espreguicei virando na cama, e virei pedra, engoli em seco quase desesperada, mas tentei me concentrar, me virei devagar, me afastando, e arranquei o edredom da cama, porque tinha alguém comigo ali!
Arregalei os olhos quando o vi deitado, encolhido a centímetros de onde eu dormia. – Porra Léo! – gritei.
Ele levantou a cabeça tentando acordar. – Que merda você tá fazendo aqui?!
Ele riu, o cabelo castanho desgrenhado, os olhos remelentos, ele com toda certeza tinha se divertido muito, a ponto de errar até o quarto. E graças a Deus, só tinha tirado a camisa.
- Calma, gordinha. – A fala dele estava arrastada, ainda meio dormindo. E rindo! O desgraçado estava rindo!
- Calma o cacete! Sai da minha cama, idiota! – O empurrei para fora, e ele se levantou quase gargalhando.
- Nossa, nem parece uma dama, Elise... – Ele falava abafando o riso.
Perdi o resto da paciência que eu ainda tinha.
- Eu vou te mostrar a dama daqui a pouco se você não sair daqui agora! – Peguei meu all star no chão e arremessei nele, ele se encolheu gargalhando, depois correu pelo quarto, pegou a camisa dele no chão, e saiu pela porta enquanto eu pegava o outro pé do tênis para mirar bem na cara dele. Mas infelizmente, acertei a porta, parecia que a habilidade dele em ser rápido, se estendia para as camas, além das pistas.
Esse foi o cumulo! Que cara mais folgado. Que audácia ele estar na minha cama. Que vontade de socar a cara dele até virar ele do avesso! Não queria nem pensar se meu pai encontrasse ele aqui. Caramba ia ser uma baita confusão. Era bem capaz de deixar ele sem os freios nos especiais de hoje. Ri comigo mesma pensando. Será que seria tão ruim? Sim, seria!
Ah se ele capotasse seu precioso Galak, aliás, nome bem estranho para um carro. A Ecosport amarela, seu xodó particular. E meu também. Era o melhor carro da equipe.
****
Tomei coragem e fui para o banho, apesar da irritação, ainda estava a fim de tentar colocar o Du de volta no rally, mesmo ele sendo um filho da mãe teimoso.
Troquei rápido de roupa, vesti a camisa da equipe, a calça jeans esfarrapada, e desci para o café da manhã do hotel.
Em três mesas, os mecânicos, meu pai, o chefe deles com uma tromba gigantesca, Du, meu irmão com cara de cachorro que caiu da mudança, Regi, nosso terceiro piloto, e Ivan, o insuportável diretor da equipe, tomavam café tranquilamente.
Peguei uma maçã na bancada de café do hotel e fui até eles. Me sentei ao lado do Du sem olhar para ele. E fiquei despreocupadamente ali, viajando na maionese esperando o tempo passar.
- Ei, foi mal por ontem. – Du falou em voz baixa para mim. – Você tinha razão. – Encolheu os ombros.
Me virei para ele e revirei os olhos mastigando a maçã. Ele riu, sabia que era meu jeito de dizer que estava tudo bem.
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Elise (Repostando)
Roman pour AdolescentsRespondona, grossa, encrenqueira que não leva desaforo para casa, e com ótimo gosto musical. Elise é a faz tudo de uma equipe de Rally. Viajando com seu pai, seu irmão e os caras da equipe desde os 14 anos, ela foi obrigada á se encaixar nesse meio...