27 Um dia comum

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Acordei com a claridade quase me cegando no quarto dele, com seus braços em volta de mim, fechei os olhos me aconchegando, não queria me mexer, mas precisava de um banho.

Lavei o cabelo, me vesti e saí para o quarto. Ele se espreguiçou abrindo um único olho com cara de sono. Que visão mais linda. Parecia um garotinho olhando para mim...

- Estava no banho? – me chamou abrindo os braços

Fiz que sim e voltei para os braços dele.

- Dormiu bem? – sorriu.

- Muito bem. – respondi animada.

Ele suspirou afagando meu cabelo molhado parecendo pensar.

- O que você acha de uma trilhasinha hoje? - Me olhou,  me dando uma piscadinha.

- Eu ia adorar. – respondi quase pulando.

***

Tomamos café da manhã na padoca dos motoqueiros, e dessa vez, Léo me apresentou como namora oficial para o Zé. Ele ficou tão animado que fiquei constrangida, nem pude brigar quando ele insistiu em me chamar de "bonequinha de olhos azuis" eu não ia discutir com ele. Mas que era perigoso ele ficar andando por aí sem óculos, isso era.

Depois do café pegamos um suprimento de pãezinhos e água e partimos para o mesmo começo da última trilha que fizemos, mas tudo estava tão diferente desde aquela vez... Parecia que o mundo estava ao contrário, e nunca me senti tão leve.

***

Depois de umas duas horas de atoleiros, pedras e muitas risadas a bordo do Galak, chegamos em um grande portão entre duas colunas de tijolos, era lindo, me lembrou até o engenho em Piracicaba, que eu sempre adorei, mas tinha certeza que não havíamos passado por ali na primeira vez.

Olhei para ele quando pegamos a entrada, e li na placa: "Restaurante, antiquário e orquidário, Vila Del Capo" era incrível, um lugar muito lindo, uma construção de tijolos como as colunas da frente, as janelas altas exibiam bandeiras da Itália. No estacionamento, haviam  jeeps, e outros veículos off Road. Desci do Galak olhando para o lugar igual uma tonta. Como podia existir um lugar tão a minha cara? E como ele tinha achado esse lugar? E eu que achava que ele não conseguiria mais me surpreender...

Havia muitos grupos lá, famílias aventureiras que paravam ali para o almoço, e caiam nas trilhas, grupos de trilheiros, e até alguns caras com macacões de motocross.

Léo me conduziu para dentro, e o interior do lugar era ainda mais legal, com suas paredes apinhadas de coisas, acho que olhei tanto que o garçom sorridente informou que qualquer peça ali estava á venda, das plaquinhas decorativas, aos bibelôs nas estantes.  Não que eu fosse comprar alguma coisa, mas isso era muito diferente...

Almoçamos uma deliciosa macarronada, com muito queijo, e pela primeira vez na minha vida,  me senti uma garota normal, almoçando com meu namorado. Sem ter nada a esconder, e me sentindo feliz.

Depois do almoço, fomos até o orquidário, principalmente para conhecer a flor que cheirava chocolate, Léo havia feito tanta propaganda que fiquei curiosa. Eu me diverti tanto com ele ali, nem conseguia parar de rir, até ele me puxar para o Galak, e pegar seu celular do bolso.

- Vem aqui.  - falou rindo, me prendendo nele. - Tirando as fotos do pódio, eu não tenho nenhuma foto nossa. Faz parte de todo o circo de namorar, ter fotos para postar ,não é? – sorriu.

- Acho que sim. – Ri confusa. – Sou meio analfabeta nesse negócio de namoro, Léo. – brinquei.

- Somos dois. – disse me virando, prendendo minhas costas em seu peito e tirando uma foto.

Peguei o celular dele fazendo careta para a minha cara na imagem. Eu odiava fotos, sempre odiei.

Ele riu de mim. – Nem vem, você tá linda... Já era, vou colocar no meu perfil.

- Léo... - reclamei. – Deixa eu tirar. – protestei, para ele era fácil, tinha aquela cara linda, até cagado ele sairia bem na foto.

Ele riu, mas me entregou o celular, apoiou as costas no Galak e me encostei nele outra vez erguendo os pés para ficar quase da altura dele. Usei a câmera da frente, e tirei a foto. E sem modéstia, ficou milhões de vezes melhor do que a que ele havia tirado.

Entreguei o celular para ele, e ele me abriu um sorriso lindo. – Tá, você é muito melhor nisso, que eu. – Riu e passou os braços ao meu redor apertando minhas costas em seu peito, dando beijos no meu pescoço. Senti o arrepio me percorrer, e me soltei dele.

- Vamos cair na trilha mais um pouco? – Ele abriu a porta do Galak para mim.

- Sim, senhor. – passei por ele, e entrei.

Voltamos para a trilha, e quase anoitecendo, ele me levou para casa. Eu ainda tinha que falar com meu pai sobre o Lestat, e  queria juntar toda a alegria dentro de mim para me dar forças. Eu sabia que meu pai era perfeitamente capaz de me jogar em um buraco de tristeza. Mas resolvi deixar isso para o dia seguinte. Fiquei com Léo no portão de casa um tempo, e cada vez parecia mais difícil vê-lo ir embora. Agora que ele sabia sobre mim, eu me sentia ainda mais à vontade com ele. Ele me fazia viver coisas, que eu nunca imaginei.

Fiquei pensando nas histórias que eu ouvia das garotas que estudavam comigo no ensino médio, o grupo popular se gabando de pegar todos os garotos nas festas de fim de semana, e as mais recatadas trocando relatos sobre as noites com seus namorados...

Nada do que eu ouvi era parecido com o que eu estava tendo com o Léo. A gente não sabia nem se comportar como namorados. Eu a idiota antissocial, e ele o comedor de plantão, social até demais, cheio de amigos, e muitas, muitas garotas.

Por algum motivo, isso nos tornava ainda mais próximos, talvez juntos a gente ficasse na média. Esses passeios... As trilhas, videogame. Que garota da minha idade ia gostar disso, ou só disso?

Provavelmente qualquer garota adoraria a Mercedes esnobe conversível, passeios cheios de frescuras, e noites de trepadas com ele... Mas parecia realmente que ele tinha se cansado disso.

Melhor para mim... Eu realmente acreditava que ele podia me arrumar... Acho que já estava fazendo isso.

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora