43 Ataque

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Eram quase quatro da tarde, quando Léo parou em frente a minha casa, e estranhei ver meu pai na calçada, sorri para ele ao ver que seu olhar não estava vazio e perdido como o de costume. Ele estava se recuperando? Era tudo o que eu desejava.

Desci da Mercedes o olhando. Enquanto Léo dava a volta para cumprimentá-lo. – Pai, você tá bem? Que bom te ver assim. - Corri para ele animada para abraçá-lo, mas ele segurou meu ombro e me empurrou para o lado, com tanta força que caí na calçada.

Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, e fiquei vendo do chão ele ir para cima do Léo, e acertar um soco em cheio.

- Pai! – gritei me levantando. – O que você tá fazendo?

Léo levou a mão ao queixo, e se endireitou para encarar meu pai. – Samuka, cara...

- Cala essa boca seu cretino de merda! – Meu pai esbravejou, e  vi que ele ia avançar sobre o Léo outra vez. Corri, e entrei na frente dele.

- Pai! Você enlouqueceu?! – gritei.

- Sai da frente, Elise! – Ele rosnou para mim.

Léo segurou meus ombros, e passou a minha frente. – Samuka, vamos conversar...

- Você vai matar a minha filha! Seu desgraçado! Você vai matar ela! – Meu pai gritava desesperado e enlouquecido de ódio.

- Pai, não, o Léo não vai fazer nada comigo... Pai. – Implorei chorando.

- Você vai morrer igual seu irmão, Elise! Eu sei! – Ele gritou comigo, com os olhos arregalados, vidrados, ele estava mesmo louco. – Eu vou enterrar você também... Por causa de um carro idiota!

- Pai, eu não vou morrer! Eu tô aqui. O que aconteceu com o Du foi um acidente... Pai, por favor...

- Samuka, sua filha tá navegando comigo. Ela é muito boa no que faz. Por favor, cara, para de loucura, eu vou protegê-la sempre! – Léo tentava acalma-lo.

- Eu sabia que eu não devia ter deixado você com ela! – Ele esbravejou.

- Eu cuidei dela todo esse tempo que você ficou morto, cara! Você pode me acusar de qualquer coisa, mas vai ter que admitir que ficou todo esse tempo sem dar a mínima para ela! – Léo cresceu para cima do meu pai.

As coisas só pioravam, e não tinha mais ninguém em casa para nos ajudar, ele estava em surto, eu não sabia o que fazer, ele ia matar o Léo.

Meu pai começou a chorar, e se lançou contra Léo, que não revidava, só tentava controlá-lo, enquanto eu gritava para ele parar.

Meu pai derrubou Léo no chão,  lhe dando uma joelhada na cabeça. Eu ofeguei, não conseguia acreditar naquela cena, gritei mais uma vez, e em desespero,e pulei sobre ele tentando tirá-lo de cima, afastá-lo... Ele socava o rosto do Léo tão violentamente que  consegui ver os respingos de sangue na porta da Mercedes, e ele já perdia a consciência.

- Pai, me escuta, por favor! Você não quer matar o Léo. Por favor, pai! – gritei no ouvido dele, e ele parou de se debater. Eu o soltei, e por um segundo, vi seus olhos voltarem para o vazio.

Corri até o Léo, erguendo sua cabeça, o lábio inferior dele tinha um corte enorme, e seu nariz também sangrava, seus olhos estavam inchados, e mal paravam abertos.

- Meu Deus, Léo. – Chorei vendo ele daquele jeito.

Ele fechou os olhos, caído na sarjeta, encostado no carro. – Você vai ficar bem... Respira tá? Eu tô aqui. Olha pra mim! – fiquei desesperada.

Ele abriu os olhos, e tentou acalmar a respiração.

- Eu tô bem, Elise. – Ele sussurrou, balançando a cabeça, e focando os olhos. – Me ajuda a ficar de pé.

Peguei seu braço, e passei por meus ombros, ele se encostou no carro, firmando o corpo. E ficou em pé afastando o sangue da boca com as costas da mão.

Segurei o rosto dele aliviada por ele estar bem, já não estava mais atordoado.

- Cadê ele? – Léo sussurrou olhando para trás de mim.

Me virei, e meu pai não estava mais lá. – Eu não sei... Você tá bem mesmo? – perguntei, preocupada.

- Tô bem, só um pouco tonto, mas já estou melhor. – respondeu me abraçando.

Respirei aliviada, com o rosto no peito dele.

E ouvi um barulho, parecendo batida de carro atrás de mim.  Levantei a cabeça, mas não havia nenhum carro na rua além da Mercedes. E ouvi o barulho outra vez. Meu coração quase parou, e o mundo rodou embaixo dos meus pés. Me soltei dele, e corri para a garagem. Fiquei sem ar, ao ver meu pai com uma barra de ferro afundando o capô do Lestat com fúria.

- Pai! – gritei, e corri até ele desesperada. – Pai, para com isso! – Agarrei seu braço, e ele me empurrou outra vez.

- Eu não vou deixar você morrer por causa de uma coisa tão idiota, Elise! – Ele acertou o para-brisa, que estilhaçou, junto com meu coração.

Fiquei furiosa, e saltei para cima dele feito uma leoa, agarrei a barra de ferro da mão dele, tentando inutilmente lutar contra a força que ele tinha. Eu podia derrubá-lo, mas nem a minha fúria, faria eu bater no meu pai. Eu queria que ele acordasse.

Ele me empurrou outra vez, e  fiz a única coisa que eu consegui pensar na hora, me coloquei entre ele e Lestat, e ergui os braços para tentar proteger o que ainda restava do meu amado uno verde.

- Sai da frente dessa merda, Elise! - Os olhos dele pareciam possuídos de raiva.

- Não! Você tá louco, pai! Olha o que você tá fazendo... Pelo amor de Deus! Por que você quer arrebentar tudo que eu amo? – gritei.

Vi a fúria nos olhos dele, e ele bateu a barra no meu braço, não foi com a força que ele batia no Lestat, mas senti meu osso partir, soltei um grito, eu me curvei de dor,  ele passou por mim, indo para a lateral do Lestat, e afundou a porta direita, lutei com a dor, e caminhei até a porta para tentar impedi-lo, mas ele acertou a barra no vidro, e no espelho retrovisor, os estilhaços voaram longe. Eu vi alguns pedaços passarem por mim, e só depois senti, o que nem era dor... Uma pressão na minha garganta, e eu não conseguia respirar direito.

Meu pai continuava destruindo meu carro diante dos meus olhos impotentes...  cambaleei levando a mão a garganta, sentindo o motivo de eu não respirar. Um pedaço... Um pedaço do espelho... Caí no chão, no meio dos outros cacos, quando vi Léo entrar correndo na garagem.

- Elise! – gritou, e o barulho do meu carro sendo destruído cessou.

Ele segurou meu rosto quase chorando de desespero, enquanto eu arfava buscando ar.

Levantei a mão para passar na minha garganta, eu queria arrancar aquilo que não me deixava respirar, para dizer para ele que estava tudo bem.

- Não mexe, Elise! – Ele rosnou. – Meu Deus! Meu Deus! –  respirou fundo, olhando para o meu pescoço,  me contorci, com a dor no peito, sem conseguir respirar, e meus olhos se fecharam.

- Elise! Elise! – Ele chamou chorando, tirou a camiseta enquanto eu abria os olhos. –Escuta! Eu vou tirar isso de você, e você tem que segurar isso tá bom? – Ele tentava ficar calmo, mas estava desesperado.

Senti sua mão tremendo, ele grunhiu de raiva, se forçando a parar de tremer. Pegou o pedaço de vidro do meu pescoço, o puxou, colocou a camiseta sobre o corte, e pressionou com a minha mão esquerda.

- Segura aí, eu vou te levar para o hospital! – chorou.

Segurei com o pouco de força que eu tinha, e ele me carregou até a Mercedes. Me colocou sentada no banco, e arrancou com tudo pela rua. Eu já não aguentava mais o peso do meu braço para segurar a camiseta, a dor no meu braço direito irradiava até meu ombro, eu nem conseguia manter minha cabeça no encosto do banco.

- Não, não, não, não, não, Elise, aguenta! Por favor, a gente já tá chegando. Elise! – Ele chorava pisando mais fundo ainda.

Faltando um quarteirão para  santa casa, soltei o peso do meu braço, e meu queixo encostou em meu peito, sem forças. É a última coisa que me lembro...

Elise (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora